Como o livre comércio com EUA poderia favorecer o país e MS

Publicado em: 30 nov 2020

Campo Grande (MS) – Acordo comercial fechado entre Brasil e Estados Unidos na semana passada desburocratizou as relações comerciais entre os dois países. Para alguns especialistas, a medida pode ser considerada com a base para um possível livre comércio entre as duas nações no futuro. Apesar de ser uma hipótese, a medida traria inúmeros benefícios para a economia, mas é preciso analisar o cenário macro para decidir se ela compensa.

Em entrevista ao Correio do Estado, a economista Daniela Dias afirma que esse tipo de parceria é importante porque aumenta o leque de parceiros comerciais para as exportações locais. 

“Nós somos grandes exportadores de commodities, tanto Mato Grosso do Sul enquanto Brasil, e isso aumentaria o nosso poder de negociação no mercado internacional e ao mesmo tempo reduziria um pouco da independência do mercado interno de outros países”, explica.

Uma parceria desse porte deve ser vista como uma via de mão dupla, precisa trazer benefícios para ambas as nações para funcionar “e isso tudo precisa ficar claro: de que forma nós seríamos beneficiados além dessa questão de acordo”.

Outra questão é prestar atenção nos outros parceiros comerciais brasileiros e o impacto que um acordo com os Estados Unidos causaria, já que algumas nações podem ficar descontentes, o que poderia gerar barreiras comerciais dependendo de como essa situação será enxergada.

“Existem alguns especialistas que comentam que esse acordo atual só se deu nesse momento justamente porque houve parceria recente com a União Europeia e devido a dependência de alguns produtos que o Brasil exporta e que é referência mundial”.

Por outro lado, continua Daniela, se essa parceria de fato for firmada e for vista com bons olhos no mercado internacional, desde que haja o consentimento entre as duas partes, podemos ter uma valorização do nosso real em relação ao dólar.

“Nós passamos a ser um pouco mais competitivo e com isso poderemos recuperar um pouco da credibilidade no mercado internacional. Então se por um lado fica mais positivo, do ponto de vista que as nossas importações vão ficar um pouco mais facilitadas, por outro temos maiores preços em termos das exportações, podemos ganhar com isso, mas as proporções também são importantes para que o nosso produto continue competitivo e também para que a gente consiga importar aquilo que a gente precisa”, diz a economista.

Segundo ela, também é preciso levar em consideração que as exportações sul-mato-grossenses e as brasileiras são centralizadas em commodities, ou seja, produtos in natura, como grãos e carne, que ainda não passaram por algum tipo de industrialização.

“Quando há o retorno desses produtos para o país ou para o estado, existe uma agregação de valor um pouco maior em termos de industrialização, então já é um produto mais industrializado, mas manufaturado, que tem um valor maior de mercado, então nós também precisamos que a indústria avance para que nós tenhamos algo mais completo a fornecer, então precisamos ficar de olho nisso para que não fiquemos apenas exportando com menor agregação  valor. Contudo, a nossa vocação natural é voltada à produção, mas maiores agregações de valor são possíveis por meio da industrialização, então todos esses acordos de abertura do comercio ou livre comercio, precisamos de nitidez quanto aos benefícios”, completa. 

NEGÓCIOS

A parceria entre Brasil e Estados Unidos era costurada há nove anos, mas acabou travado após as últimas eleições brasileiras. O alinhamento de Bolsonaro com Donald Trump reacendeu as discussões e elas avançaram. Porém, o que teve mais peso na concretização da medida foi a corrida eleitoral norte-americana, a partir do momento que o empresário candidato à reeleição caiu nas pesquisas de intenção de votos (o acordo é positivo para a imagem dele).

Como as regras do Mercosul impedem os países-membros de firmarem acordos de livre comércio fora do bloco, a parceria focou em temas não tarifários que não dependem do crivo dos demais latino-americanos. 

Segundo o Governo Federal, esta é uma das parcerias mais ambiciosas já feitas em todo o mundo, e o mais avançado na história brasileira. Um dos principais pontos é a criação de programas de OEA (Operador Econômico Autorizado). Com isso, empresas terão uma espécie de credencial para facilitar o trânsito de suas mercadorias de maneira quase automática. A implementação depende ainda de uma visita de autoridades americanas às aduanas locais, ainda sem prazo por conta da pandemia.

Além disso, devem ser adotados procedimentos eletrônicos para processamento das exportações e importações, tornando todo o processo ainda mais ágil, já que atualmente os trâmites são em papel. 

Há ainda compromissos para revisão de regulações já vigentes e criação de um órgão de coordenação para supervisionar tudo. Há uma cláusula que prevê adoção de padrões para impedir que um funcionário público peça ou receba suborno para facilitar a entrada de produtos. 

 

Fonte: Correio do Estado

 
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