Juro baixo e crise fazem brasileiro aplicar recursos no exterior

Publicado em: 03 jul 2020

Campo Grande (MS) – Investir fora do país tem se tornado mais fácil e já é mais acessível a investidores iniciantes e para quem ainda não alcançou volume significativo de aplicações. Hoje, é possível encontrar fundos de investimentos com aporte inicial de R$ 1 mil em corretoras. Porém, é preciso estar atento a fatores como alterações cambiais e valor do spread, na hora de calcular o retorno financeiro do negócio.

Além disso, com o juro real próximo de zero no país, aplicadores buscam risco maior no exterior para obter maior lucro. “Investir no exterior hoje é como comprar um produto de investimento aqui, com a mesma facilidade que você compra outros produtos. Ficou mais fácil ter acesso a coisas muito mais sofisticadas”, diz George Wachsmann, chefe de gestão da corretora de investimentos Vitreo. “Para quem está começando, eu aconselho produtos mais simples, como um fundo com várias classes de ativos.”

Para Roberto Lee, CEO da Avenue, corretora americana voltada para clientes brasileiros, o aumento pela demanda de investimentos no exterior vem do interesse de reduzir os impactos da flutuação do câmbio. “A vida ficou muito dolarizada: o poder de compra diminuiu com o aumento cambial. Cada vez mais, as pessoas precisam se proteger da valorização do dólar, ter ativos internacionais protege contra essa inflação do dólar”, diz.

Entretanto, embora pareçam investimentos atraentes, é necessário ter cautela no cálculo do custo-benefício das negociações. Para o economista da FGV Fabio Gallo, o investidor precisa adquirir conhecimentos técnicos antes de se aventurar nesse tipo de aplicação. “Se você já tem dificuldades de investir no nosso mercado, em reais, dar um passo desses só por causa do entusiasmo pode ser equivocado. Além disso, se você entra com pouco capital, pode ser que o retorno não seja tão volumoso.”

O economista também chama a atenção para a importância da avaliação do risco cambial e do valor do spread nas negociações para o exterior. “Em qualquer transação em que você pega o dólar alto, seu dinheiro será consumido já nessa primeira operação. Depois, se por qualquer motivo decide se desfazer da carteira, ao repatriar o dinheiro você perdeu dinheiro na ida e perdeu na volta. Então é preciso ter muita cautela”.

Para Wachsmann, o risco cambial faz parte do investimento, mas não deve impedir a aplicação. “Não sei quanto vai estar o câmbio amanhã, nem pretendo saber. O investidor tem de ter em mente que vai ter exposição cambial, mas vai ter acesso a um leque maior de fontes de rendimentos. Isso é um dos componentes da carteira”, afirma o gestor da Vitreo.

Experiência de negociação. O servidor público Ricardo Silveira possui investimentos no exterior desde 2013, quando abriu uma conta em uma instituição dos EUA. Atualmente possui ações de mais de 100 empresas listadas na Bolsa de Nova York (Nyse). Para ele, as principais vantagens foram garantir segurança diante da incerteza econômica e investir em áreas não contempladas pela Bolsa de Valores de São Paulo.

“Você consegue manter parte do seu patrimônio protegido do governo brasileiro, que tem gerado incertezas desde 2013. Além disso, o número de empresas que são boas ou excelentes na Bolsa americana é muito maior do que na Bolsa brasileira”, afirma.

Ele diz que, mesmo com o valor de câmbio alto, viu uma grande oportunidade de ampliar as aplicações internacionais durante a pandemia do novo coronavírus. “Neste momento, você vê uma queda no valor dos ativos, mas as empresas continuaram boas, e vão se recuperar”, conta o servidor.

Silveira, que tem experiência no mercado e um alto volume de investimentos, prefere negociar diretamente os ativos, para fugir de taxas. “O fundo acaba investindo em ativos reais. Se eu posso comprar direto ações de determinada empresa, por que eu vou comprar um fundo que paga terceiros para intermediar esse processo?”

Formas de investir no exterior

Fundos de investimento:

Forma mais convencional de investimento no exterior. Corretoras aplicam em ativos em Bolsas no exterior, processo semelhante ao das negociações no Brasil. Investidores de varejo (com volume de investimentos inferior a R$ 1 milhão), podem aplicar até 20% dos ativos no exterior. A tributação é de 15% sobre o lucro ou segue a tabela do Imposto de Renda no caso de ações. Em investimentos de renda fixa, a tributação varia de 15% a 22,5%.

ETFs:

Negociados dentro da B3, os Exchange Traded Funds (ETFs) são fundos que reúnem um conjunto de ações em uma única carteira e replicam um índice. Há tributação de 15% sobre olucro. Em geral, o investimento é feito como o de uma ação dentro da B3, com base na composição do Ibovespa. ETFs também podem replicar índices externos, como o S&P 500, da Bolsa de Nova York.

COE:

O Certificado de Operações Estruturadas (COE) reúne renda fixa e renda variável em um só título. É negociado por bancos e outras instituições nacionais, que investem tanto em CDB, LCI e LCA quanto em ações nacionais e estrangeiras, índices das bolsas americanas e dólar. Tem taxa de administração e também são tributados pela tabela do Imposto de Renda para renda fixa.

BDR:

Os Brazilian Depositary Receipts (BDR), ou certificado de depósito de valores mobiliários, são comprovantes de valores mobiliários emitidos por companhias abertas estrangeiras. São negociados na B3. O investidor aplica em títulos que representam ações no país em vez de adquirir diretamente ações de empresas. A tributação é de 15% sobre o lucro.

Conta em banco ou corretora no exterior:

É a forma mais direta de investimento no exterior. O investidor abre uma conta em qualquer país e envia remessas de dinheiro para negociar investimentos oferecidos pela instituição. Dessa forma, é possível investir mais do que 20% da carteira de ativos, mas é preciso levar em consideração o valor do câmbio e das taxas de envio das remessas, também cobradas em moeda estrangeira.(Reprodução/O Estado de S. Paulo)

 

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