Por Clemente Ganz Lúcio*
Campo Grande (MS) – Os impostos que todos pagamos financiam: as políticas sociais relativas à saúde, educação, assistência social, previdência, segurança, entre tantas outras; os investimentos públicos na infraestrutura econômica e produtiva, como estradas, ferrovias, portos, aeroportos, energia, rede de internet; os gastos das prefeituras, dos governos dos estados e da União, do Legislativo e do Judiciário; a estruturação de empresas; e a prestação de todos os serviços públicos.
Os impostos são gerados a partir das atividades produtivas e do consumo, dos salários recebidos pelos trabalhadores, dos lucros auferidos pelas empresas, da renda dos empresários e dos demais rendimentos. Impostos são recolhidos com base na propriedade, na compra e venda de bens (casa, automóvel etc.), no uso de serviços e na transmissão de herança ou alienação de patrimônio.
Para que ocorra o recolhimento dos impostos, se definem regras – quem paga, quanto, sobre que fato gerador: salário, lucro, compra, venda, herança – e se organiza a estrutura do sistema tributário. A história mostra que os diversos países montaram diferentes sistemas tributários, que se caracterizam, basicamente, por serem progressivos – nos quais os ricos pagam mais impostos que os pobres – ou regressivos, nos quais os pobres pagam mais impostos que os ricos.
O Brasil é o caso de um país profundamente desigual com um sistema tributário altamente regressivo. A compreensão das causas estruturais dessa situação é fundamental para a reflexão sobre as transformações econômicas e sociais necessárias para recolocar o país em uma trajetória de desenvolvimento.
Uma iniciativa muito importante da ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil e da FENAFISCO – Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital, que contou com a colaboração do DIEESE, resultou na produção de um amplo e profundo estudo sobre o sistema tributário brasileiro. O estudo completo, que mobilizou mais de 40 especialistas coordenados pelo economista Eduardo Fagnani.
O trabalho contém diversas informações e análises profundas sobre um vasto leque de questões relacionadas ao sistema tributário brasileiro, além de indicar oito diretrizes para uma reforma tributária solidária, que deve:
– Ser pensada na perspectiva do desenvolvimento;
– Ser adequada ao propósito de fortalecer o Estado de bem-estar social em função do seu potencial como instrumento de redução das desigualdades sociais e promotor do desenvolvimento nacional;
– Avançar no sentido de promover a sua progressividade pela ampliação da tributação direta;
– Avançar no sentido de promover a sua progressividade pela redução da tributação indireta;
– Reestabelecer as bases do equilíbrio federativo;
– Considerar a tributação ambiental;
– Aperfeiçoar a tributação sobre o comércio internacional;
– Fomentar ações que resultem no aumento das receitas, sem aumentar a carga tributária.
Essas diretrizes foram desdobradas em propostas trabalhadas pelos especialistas e divulgadas pelas entidades durante este mês de agosto. Trata-se de um primoroso trabalho que subsidiará o processo eleitoral em curso, no qual, espera-se, a nação eleja candidatos compromissados com a reforma tributária solidária, transformação necessária para promover o nosso desenvolvimento.