Campo Grande (MS) – Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) no debate para a retomada dos jogos de futebol após o início da pandemia, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, foi indicado pelo governo para presidir o conselho de administração da Petrobras.
Landim fez carreira na estatal, de onde saiu em 2006 para integrar o grupo empresarial de Eike Batista. Se aprovado pelos acionistas, vai substituir o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que pediu para deixar o cargo alegando razões pessoais.
A indicação de Landim foi confirmada pela Petrobras em comunicado no início da madrugada de domingo (6) e será avaliada pelos acionistas em assembleia geral marcada para o dia 13 de abril.
Na assembleia, os acionistas avaliarão oito nomes indicados pelo governo. Além de Landim, outros dois nomes são novos: o almirante Luiz Henrique Caroli e o engenheiro Carlos Eduardo Lessa Brandão. O restante já está no conselho da estatal.
Com a indicação de Caroli, o governo Bolsonaro mantém três militares no colegiado — os outros dois são o presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna e o oficial da reserva da Marinha Ruy Flacks Schneider.
O anúncio da mudança no conselho ocorre no momento em que a Petrobras enfrenta pressão de investidores para aumentar os preços dos combustíveis, já que o petróleo se aproxima de US$ 120 dólares por barril.
Rodolfo Landim trabalhou por 26 anos na Petrobras, com passagens pelas áreas de exploração e produção e gás natural. Quando deixou a empresa, em 2006, presidia a BR Distribuidora, então uma subsidiária integral da estatal.
Depois de um conturbado rompimento com Eike Batista, a quem ajudou na criação de empresas de mineração e de petróleo, fundou sua própria petroleira, a Ouro Preto, e um fundo de investimentos no setor de petróleo e gás, chamado Mare Investimentos.
A petroleira foi vendida em fevereiro de 2020 para a gestora Starboard Restructuring Partners.
Em julho de 2021, Landim foi denunciado pelo Ministério Público Federal por gestão fraudulenta de investimentos que teriam provocado perdas de R$ 100 milhões aos fundos de pensão dos empregados da própria Petrobras, da Caixa e do Banco do Brasil.
Segundo nota divulgada neste domingo pelo MME (Ministério de Minas e Energia), o atual presidente do conselho de administração da Petrobras pediu para deixar o cargo “por motivos estritamente pessoais”.
À Reuters, o almirante Bacellar disse no sábado (5) que tem dois filhos morando fora e que pretende passar mais tempo com a família. “A presidência do conselho de administração da Petrobras é um trabalho de 24 horas”, afirmou.
Ele foi o primeiro militar a presidir o conselho de administração da maior estatal brasileira desde o general de brigada Araken de Oliveira, que ficou no cargo 1974 e 1979. Antes de Bolsonaro, a Petrobras havia ficado quatro anos sem militares no conselho.
Com maioria das ações com direito a voto, o governo Bolsonaro tem conseguido segurar ofensivas de minoritários para reduzir a presença do acionista controlador no conselho e emplacou sete dos onze nomes do colegiado na última assembleia.
A votação, em abril de 2021, foi confusa e gerou acusações de falhas no sistema de contagem dos votos, o que levou a Petrobras a suspender a primeira assembleia e realizar novo pleito.
Nele, foi aprovada a nomeação de Silva e Luna para o conselho, que aprovou depois sua indicação para presidir a estatal, em substituição a Roberto Castello Branco, demitido em meio a queixas sobre a escalada dos preços dos combustíveis.
Com a guerra da Ucrânia e a proximidade das eleições, a Petrobras passará em 2022 por um teste de independência em relação ao acionista controlador, que não esconde o desejo de segurar os preços dos combustíveis no país.
Na quinta-feira (3), o presidente Jair Bolsonaro disse que a Petrobras sabe da sua responsabilidade e o que pode fazer para que os preços dos combustíveis no Brasil não disparem apesar da alta internacional do petróleo devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Um crescente coro de políticos afirma que a Petrobras deveria ajudar a arcar com esses custos do petróleo mais alto. No Congresso, deputados e senadores discutem projetos de lei para baixar os preços dos combustíveis e até mudar a política de preços da estatal.
A ofensiva foi reforçada pelo anúncio de que a empresa pagará um total de R$ 101,4 bilhões em dividendos pelo lucro recorde de R$ 106,6 bilhões registrado em 2021.
Fonte: Folha de São Paulo