Campo Grande (MS) – Quando o preço do etanol está 70% abaixo do valor da gasolina, o consenso do mercado de combustíveis é de que compensa optar pelo biocombustível. Apesar dessa premissa, a maioria dos condutores de veículos em Mato Grosso do Sul seguem preferindo o combustível fóssil na hora de abastecer. Dados da Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) mostram que, nos 12 meses de 2023, a gasolina seguiu líder no mercado.
Conforme o levantamento, foram 806 milhões de litros de gasolina comercializados no ano passado, enquanto a venda de etanol em MS chegou a 198,9 milhões de litros. Ou seja, o volume de combustível fóssil vendido foi quatro vezes maior (305%) do que o total do biocombustível.
Na comparação com 2022, a gasolina teve um aumento de 6% nas vendas, saindo de 760,4 milhões de litros e chegando aos 806 milhões computados no ano passado.
Contudo, o biocombustível vem abrindo espaço no mercado e aumentando cada vez mais a concorrência, com preços competitivos.
Ainda segundo o levantamento da Sefaz, a venda de etanol nos postos de MS aumentou em 104% no segundo semestre do ano passado na comparação com o primeiro, saltando de 65,5 milhões de litros para 133,5 milhões de litros no período.
Se for levado em consideração o comparativo entre os 12 meses de 2022 com igual período do ano seguinte, o crescimento nas vendas foi menor, de 37,9% – saindo de 144,2 milhões de litros para 198,9 milhões de litros.
Mesmo liderando, o derivado do petróleo já começa a perder espaço. Em dezembro de 2022, por exemplo, foram comercializados 82 milhões de litros de gasolina, enquanto no último mês do ano passado as vendas recuaram para 70 milhões, uma queda de 14,5%.
CONSUMO
Nos carros flex da frota brasileira, o etanol rende 30% menos que a gasolina. Por isso, esse tipo de biocombustível, para ser minimamente competitivo com a gasolina, precisa ser pelo menos 30% mais barato que o combustível fóssil – ou seja, seu preço tem de corresponder a até 70% do valor da gasolina.
Para descobrir se compensa fazer a troca, é preciso dividir o valor do etanol pelo da gasolina, e o resultado deve ficar abaixo de 0,70. Por exemplo, considerando a média de preços atuais, ao dividir R$ 3,55 (etanol) por R$ 5,72 (gasolina), o resultado é 0,62 – portanto, nesse caso, a troca compensa.
Em Campo Grande, há quem ainda não saiba da paridade dos combustíveis ou, por outros motivos, prefira a gasolina para abastecer. Motorista há 35 anos, Alfredo Cristaldo Ferreira, 56 anos, relata que, mesmo tendo um veículo flex, ele mantém o hábito de abastecer somente com gasolina.
“Sempre tive em mente o consumo do álcool ser maior. Então, para mim, a gasolina sempre vai ser o [combustível] melhor”, explica.
Auxiliar de escritório, Álvaro Lima, 20 anos, é recém-habilitado. Ele conta que também prefere o combustível fóssil: “Dá mais potência e autonomia para o carro, até na moto. Sinto que não consigo andar da mesma forma quando abasteço com etanol”.
Por outro lado, o publicitário José Theotônio, 37 anos, ressalta que, na maior parte das vezes, optou pela gasolina. Entretanto, com a popularização dos veículos flex e com a alta do derivado de petróleo, ele passou a observar os preços e calcular o consumo.
“No último ano, se eu for analisar, abasteci muito mais vezes com o etanol, pois acabou compensando”, afirma.
Theotônio conta ainda que até pouco tempo não fazia o cálculo de compensação para saber se a troca seria viável. Porém, ao fazer a troca, ele cita sentir que seu carro perde um pouco da força no trânsito.
“Dependendo do que vou fazer, se preciso pisar mais [no acelerador], eu ainda escolho a gasolina”, conclui.
PESQUISA
Uma pesquisa feita pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), feita em julho de 2022 com entrevistados de 15 grandes centros urbanos, mostra que apenas quatro em cada 10 proprietários de veículos flex têm conhecimento sobre essa relação de preços.
Contudo, não apenas são poucos os que sabem da regra dos 70%, como também é uma minoria quem afirma sempre fazer essa conta.
Os que fazem o cálculo representam apenas 17% do universo de motoristas, enquanto os que calculam às vezes correspondem a 35,2% do total de condutores habilitados. Outros 47,2% afirmaram nunca fazer conta nenhuma.
Quem faz o cálculo de viabilidade, porém, dá preferência ao etanol. Dos motoristas que abastecem com gasolina, 51% não pegam na calculadora. Entre os condutores que preferem etanol, quase 60% realizam cálculos.
Em alguns veículos, o rendimento do etanol é pouco superior a 70% da gasolina, e em outros, menor, o que faz com que, na média, valha a regra dos 70% – é o que explica Rogério Gonçalves, diretor da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).
“A percepção de que o etanol pode oferecer menos potência pode ser decorrente da dificuldade de partida quando o veículo está frio”, comenta.
Fonte: Correio do Estado