“O Brasil não vai romper relações com a Venezuela. Relação é com o Estado. Nem romperia se fosse um cara de direita. Vamos trabalhar no que pudermos”, disse o assessor de Lula para assuntos internacionais
Um dos integrantes do governo mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, disse não acreditar, neste momento, na presença do petista em uma eventual posse do ditador da Venezula, Nicolás Maduro.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ex-ministro das Relações Exteriores afirmou que não haverá rompimento do governo brasileiro com o regime venezuelano, mesmo diante do fracasso das investidas do Brasil para que a Venezuela divulgue todas as atas eleitores do pleito presidencial deste ano.
No fim de julho, Maduro foi declarado vencedor das eleições presidenciais venezuelanas, supostamente derrotando o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.
O resultado foi recebido com perplexidade pela grande maioria dos países democráticos ocidentais, já que o candidato oposicionista aparecia bem à frente de Maduro em todas as pesquisas dos principais institutos. A oposição acusou o regime de fraudar a eleição, e diversos órgãos independentes internacionais apontaram irregularidades no pleito. Países como os Estados Unidos e o Brasil não reconheceram o resultado.
“Nunca é ‘game over’. O Brasil não vai romper relações com a Venezuela. Relação é com o Estado. Nem romperia se fosse um cara de direita. Vamos trabalhar no que pudermos”, disse Amorim.
“A gente também tem um limite do que podemos fazer sem ser interferência. A gente até deu sugestões [sobre novas eleições]. Aparentemente, nem a oposição nem o governo estiveram de acordo, o que demonstra que talvez essas sugestões fossem equilibradas. Nós não vamos nos desinteressar da Venezuela porque é vizinho, é um país muito importante para o Brasil de qualquer maneira. Vamos continuar trabalhando de uma maneira democrática no que for possível dentro de uma cooperação que não seja uma interferência”, prosseguiu o auxiliar de Lula.
Questionado sobre a possível presença do presidente brasileiro na posse de Maduro, caso ela ocorra, Celso Amorim não escondeu o ceticismo.
“Eu não vou ficar especulando sobre isso. Se você perguntar, hoje eu não vejo isso”, admitiu.
“Daqui a quatro meses, eu não sei o que acontecerá, se terá havido [um acordo]. O Brasil ainda apoia uma coisa baseada no acordo de Barbados. Agora, quando isso poderá ocorrer…”, completou o ex-chanceler.