Campo Grande (MS) – O governo enfrenta dificuldades para encontrar no mercado novos candidatos para a presidência e o conselho de administração da Petrobras. Executivos com experiência e reconhecimento no setor de óleo e gás sondados para uma eventual indicação estão declinando do convite.
Trata-se de profissionais com perfil mais técnico e passagem na área de energia de diretorias de órgãos públicos, secretarias de ministérios e agências de regulação. A percepção é que a relação custo e benefício de assumir os postos no comando da estatal não compensa neste momento.
Em parte, pesa contra o desgaste com a dupla desistência do consultor Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), e do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, que ocuparia a presidência do conselho de administração.
No entanto, existem também empecilhos administrativos. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, um novo gestor precisa de no mínimo três meses para entender a estrutura operacional da Petrobras. Como o governo no fim de mandato, o prazo é muito curto para deixar algum legado que possa ser relevante.
Incomoda também o risco de pressão política, uma vez que está claro para o setor que os novos titulares terão de enfrentar oposição do próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação à política preço dos combustíveis.
O governo teria de apresentar novos nomes até o dia 13, data da assembleia de acionistas e, dado estreito prazo, tem sido aconselhado a procurar alguém entre seus quadros ou nos quadros internos da própria Petrobras para ocupar as vagas.
Nesse contexto, voltou a ser ventilado o nome do secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade, que já foi até entrevistado para o cargo, segundo fonte do governo.
Não existem muitos nomes com experiência em óleo e gás na gestão bolsonarista.
Entre alguns profissionais conhecidos estão integrantes do alto escalão da PPSA (Pré-Sal do Petróleo SA), que é presidida por José Eduardo Vinhaes Gerk, com mais de 30 anos na área, e algumas outras pessoas em cargos na área de energia, como José Mauro Coelho, diretor de estudos para óleo e gás da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Na tarde desta terça-feira (5), uma reunião dedicada a debater substitutos terminou sem uma definição.
O impasse na escolha dos novos presidentes ocorre após uma sucessão de desencontros desencadeada pelo próprio Bolsonaro. Ele demitiu o general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras no dia 28 de março, após discordar de um forte reajuste de preços promovido pela estatal.
Na sequência, os indicados pelo governo passaram a ser questionados pelo mercado. Landim declinou do convite no domingo (3) alegando que precisava se dedicar ao Flamengo. Na segunda-feira (4), Pires afirmou que não tinha como conciliar o trabalho de consultor com a presidência da estatal.
No entanto, haveria risco de os nomes serem questionados na assembleia de acionistas que aprova as indicações. Como a Folha mostrou, os indicados para substituir o general Joaquim Silva e Luna têm forte ligação com Carlos Suarez, dono da Termogás, que controla distribuidoras de gás encanado em regiões ainda não atendidas por gasodutos, como o Distrito Federal.
Pires, por sua vez, para cumprir a Lei das Estatais e regras de governança da Petrobras, teria que se desvencilhar totalmente de sua consultoria, providenciando inclusive o desligamento do filho, seu sucessor no negócio.
O desafio do governo é encontrar alguém que não apenas aceite como passe no crivo regulatório.
Fonte: FolhaPress