Campo Grande (MS) – Bem-vindo ao final da nossa série de artigos e vídeos sobre o mundo transformado pelo 5G. Nesse texto de conclusão, vamos procurar tirar algumas preocupações de quem nos acompanhou até aqui sobre a nova tecnologia de rede. De maneira geral, nossos leitores estão apreensivos e céticos. Compreensível, afinal, é muito difícil imaginar um futuro utópico enquanto vivemos um presente distópico. Reunimos as mensagens e comentários que recebemos em nossas redes sociais e selecionamos as principais dúvidas que nossos seguidores manifestaram. Com a ajuda de nossos entrevistados, vamos tentar respondê-las.
5G não é só uma banda mais larga?
Não é. Tecnologicamente, o 5G é bem mais sofisticado que o 4G. Ele possui uma camada de software entre as antenas e os aparelhos conectados à rede que vai permitir truques impossíveis na rede atual. O Network Slicing (fatiamento da rede) é um desses truques: a possibilidade de criar redes virtuais independentes com características próprias em cima da rede física. O Network Slicing vai garantir latência zero para aplicações críticas — como telecirurgias. Ou seja, não existe demora, ainda que pequena, para que o comando do médico chegue ao robô a centenas de quilômetros. É instantâneo. Esse fatiamento também garante maior segurança, criando uma rede diferente para cada tipo de uso.
Além disso, várias tecnologias que existem atualmente só esperam uma rede rápida e mais poderosa para deslanchar, como IoT, Realidade Virtual e Aumentada. “O 5G é uma tecnologia capacitadora”, diz Ailton Santos, head da Nokia Brasil. “Ele é a pavimentação que vai proporcionar e fomentar novos modelos de negócios totalmente inovadores. Nesse sentido ele é disruptivo.”
O 5G vai democratizar o acesso a tecnologia ou irá aumentar o fosso tecnológico entre pobres e ricos?
Se olharmos para as revoluções tecnológicas e industriais anteriores, veremos que apesar do pânico inicial elas acabam sendo democratizantes por um grande motivo: aumentam a produtividade e, consequentemente, aumentam a riqueza dos países que as adotam. O 5G trará um ganho gigantesco de produtividade. Segundo estimativas da consultoria PwC, a adoção do 5G vai resultar em um ganho de US$ 13,2 trilhões no PIB mundial e gerar 22,3 milhões de empregos apenas em sua cadeia de valor até meados da década de 30.
Obviamente, existe a questão de como essa riqueza será distribuída, mas isso é problema da sociedade como um todo, não apenas do setor de tecnologia. “Quando falamos de tecnologias no futuro a gente pinta um quadro bacana do ponto de vista de oportunidades e possibilidades, mas do ponto de vista de políticas econômicas vão ter coisas muito complicadas para lidar nos próximos anos, não só no Brasil, mas no mundo”, diz Michel Lent, CMO do Banco Modal. “A pandemia já mostrou como a gente é uma coisa só. Estamos caminhando para mudanças muito importantes impulsionadas pela tecnologia, mas elas não acontecerão só no ambiente tecnológico.”
O leilão das bandas 5G será utilizado inclusive para democratizar o acesso à rede, obrigando as operadoras que ganharem as concessões a ampliar o acesso à rede celular para cidades com até 600 habitantes e ampliar a rede de fibra óptica em estradas e regiões afastadas.
O Brasil vai ficar para trás?
O leilão das bandas para implementação do 5G no Brasil está atrasado. Enquanto China, EUA e outros países já possuem milhares de pontos de acesso 5G, aqui a tecnologia só existe em caráter de teste. Por outro lado, o 5G não vai ser implementado em nenhum lugar de um dia para outro. Ele exige grandes investimentos em infraestrutura e precisa ter um ecossistema maduro para começar a permitir as grandes mudanças de que falamos. Ou seja, temos uma boa janela nos próximos anos para alcançar os países que saíram na frente.
“O Brasil precisa estar à frente da tecnologia 5G no mundo”, diz Santos, da Nokia. “Essa é uma oportunidade única de fazer um salto que a gente chama de leapfrog, saltarmos de um país atrasado tecnologicamente para um país à frente da média do mundo. Só que para isso acontecer além da regulamentação do 5G, precisamos desenvolver capacitação técnica e fomentar a inovação na indústria. Essa é a chave para completar o ciclo e fazer com que o 5G vire uma realidade.”
A medicina do futuro vai ser restrita a quem puder pagar por caros aparelhos de monitoramento de saúde?
Não vai ser preciso ter um AppleWatch para ser saudável no futuro. A boa notícia é que o 5G e as tecnologias de monitoramento e cuidados com a saúde vão baratear o custo da medicina. A expansão da teleconsulta e diagnósticos instantâneos realizados por Inteligência Artificial vão reduzir o trabalho de médicos e as filas em sala de espera.
“A medicina sempre foi uma área inovadora”, diz Thiago Julio, gerente de inovação aberta da empresa de saúde DASA e curador da Cubo Health, área de saúde da incubadora Cubo Itaú. “A inserção de tecnologia democratiza o acesso à medicina. Sua incorporação, no entanto, é heterogênea e desigual no começo. Existem grandes grupos que têm maior poder de investimento, hospitais e universidades com mais recursos e outros com menos, cidades com maior capacidade de investimento que outras. Mas no médio e longo prazo o uso da tecnologia tende a se homogeneizar. E aí não tenho dúvida que a tecnologia irá ampliar o acesso, aumentar a eficiência e garantir mais qualidade para o paciente.”
Para onde irão os empregos?
Motorista de caminhão. Taxista. Caixa de supermercado. Vendedor de seguros. Carteiro. Operador de telemarketing. Juiz de futebol. Essas são algumas das profissões que provavelmente não existirão mais em dez anos.
Alimentador de Inteligência Artificial. Operador de drones. Designer de metaverso. Mecânico de robôs. Treinador de e-sport. Gerente de dados pessoais. Roteirista de Realidade Aumentada. Essas são algumas profissões que poderão existir daqui a dez anos.
O 5G e as tecnologias que irão surfar sobre ele criarão milhões de empregos e destruirão outros milhões. O desafio será conduzir essa transição dos velhos taxistas para os novos operadores de drones sem causar ataques luditas e revoltas sociais. Todos os especialistas concordam que a chave para isso está na educação, de preferência conduzida por governos, iniciativa privada e academia trabalhando juntos.
“O ritmo da inovação e da transformação que as novas tecnologias estão trazendo são muito mais rápidos do que qualquer coisa que já vimos no passado”, diz Sergio Fasce, diretor global de educação da Nokia. “A mensagem mais importante que precisamos passar a todos é: você vai precisar estudar sua vida inteira. Se você fizer isso, terá grandes oportunidades.”
E o 6G? Quando ele chega?
Dez anos passam rápido e logo estaremos todos assistindo vídeos 3D de alta definição por streaming em nossos óculos de Realidade Mista e nos perguntando: será que esse 6G vai ser tudo o que estão prometendo?
Hoje, a rede 6G só existe em laboratórios nos EUA, Europa, China e no espaço (a China lançou um satélite para estudar a tecnologia). A Apple contratou um punhado de cientistas para estudar o assunto. Outras empresas também estão estudando, mas ninguém sabe quais serão suas características. Talvez opere em bandas de terahertz, se até lá os empecilhos físicos para uso comercial dessa frequência sejam resolvidos. Talvez atinja velocidades mil vezes maiores que o nosso 4G. Talvez utilize “superfícies inteligentes”, metamateriais que irão revestir paredes e telhados transformando edifícios em receptores/transmissores do sinal 6G.
“O 6G hoje é somente um tópico de pesquisa nos laboratórios do Bell Labs, da Nokia”, diz Enrique Ramirez, CTO da Nokia para a América Latina. “Mas uma das tecnologias que estão previstas para o 6G é a integração dos sistemas de telecomunicações e automação com a biologia. Então veremos, por exemplo, smartpatches que poderão medir nossa saúde sem a necessidade de aparelhos externos. Nanorobôs ou mesmo chipsets ou dispositivos que teremos em nossos corpos, seja externamente ou internamente, para ajudar a resolver problemas com nossas articulações, com nosso coração, para medir nossos níveis de açúcar e tudo em tempo real. Tudo isso será analisado em tempo real para nos ajudar a tomar decisões mais inteligentes e a vivermos mais felizes.”