Campo Grande (MS) – Mato Grosso do Sul teria recebido uma parte do denominado “orçamento secreto”, viabilizado pelo governo Jair Bolsonaro. O montante de R$ 10 milhões foi enviado ao Estado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), apesar de o parlamentar ter Alagoas como colégio eleitoral.
Os outros entes federativos que também teriam sido beneficiados com o mesmo valor são: Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Geralmente, as emendas parlamentares são destinadas às suas bases eleitorais.
A notícia, que foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo no domingo, faz parte de uma série de reportagens que tenta esmiuçar o destino de R$ 3 bilhões de uma verba extraorçamentária viabilizada pelo governo federal e repassada a parlamentares da base aliada. .
O jornal ainda expõe que cerca de 16 parlamentares aliados ao Palácio do Planalto indicaram verbas para estados diferentes daqueles em que foram eleitos, usando o dinheiro do Ministério do Desenvolvimento Regional em troca de apoio político. Ao todo, R$ 181 milhões foram enviados para regiões fora de suas bases eleitorais.
Um dos fatos intrigantes é que um dos políticos da base mais beneficiados foi o atual presidente da Câmara, Arthur Lira. Acontece que todas essas tratativas foram realizadas poucos dias antes da eleição na Casa de Leis, que culminou na vitória do deputado alagoano.
Um dos estados que teria recebido essa verba extraorçamentária é justamente São Paulo, base eleitoral de seu principal adversário no pleito, o também deputado Baleia Rossi (MDB).
APOIO
Uma das parlamentares sul-mato-grossenses que apoiaram Lira na eleição à presidência da Câmara foi Rose Modesto (PSDB). Posteriormente, a deputada acabou conquistando um assento na Mesa Diretora, logo após a eleição do aliado.
Rose Modesto afirmou desconhecer que esse recurso tenha vindo para Mato Grosso do Sul e estranhou o fato dele ter sido destinado pelo presidente, que não é do Estado.
“Eu achei infundada essa informação, pois não ouvi em nenhum momento na Câmara nenhuma discussão nesse sentido. Levando em consideração o fato de todos saberem que sou aliada do presidente Lira, certamente me seria comunicado o destino dessa emenda”, afirmou.
A deputada ainda avaliou “sobre ele ter enviado esse montante a MS, é legítimo, pois os deputados federais podem atender demandas de todos os estados brasileiros, ou seja, não precisam se limitar ao seu local de origem. Esse mecanismo é legítimo. Os parlamentares sempre tentam buscar recursos aos seus estados, mas não fui informada desse montante, que, se realmente existiu, seria muito bem-vindo”.
NÃO ESTOU SABENDO
Já Luiz Ovando (PSL), que é da base aliada de Bolsonaro, afirmou que também não tem conhecimento dessa emenda secreta.
“Não estou sabendo sobre a suposta verba destinada a MS e, caso soubesse, comentaria. A reportagem denomina como verba secreta, mas ela é pública, pois existe Lei da Transparência. Por fim, agora que estou sabendo, tentarei buscar informações e, caso exista esse recurso, vou ver se consigo contemplar algum município”, completou.
Já o deputado Fábio Trad (PSD), que foi oposição à eleição de Lira, usou um tom pragmático ao avaliar a questão.
Ao ser perguntado sobre esse montante de R$ 3 bilhões, que poderia ter sido usado para compra de apoio, o parlamentar afirmou que tudo precisa ser investigado pelos órgãos de controle, como a Controladoria-Geral da União (CGU), e que qualquer afirmação agora, nesse sentido, seria prematura.
“Tudo depende de provas. Houve tratativas de troca? Quais? De que forma? Sobre destinação de verba orçamentária a parlamentar aliado, é preciso saber: Quantos? Quem? Oposição destinou recursos às suas bases? Preciso saber como se deu essa destinação, a origem ou a razão. Antes disso, supor ilicitude me parece leviano”, explicou.
PAGAMENTO
Deputado de oposição ao presidente Bolsonaro, Dagoberto Nogueira (PDT) foi categórico ao afirmar que todo esse movimento configura que Lira e o governo federal estariam pagando os parlamentares pelo apoio à sua eleição à presidência da Câmara.
“Para conquistar o cargo, o governo federal colocou à disposição de Lira esse montante e agora simplesmente esse apoio está retornando em forma de verbas. Não sabemos o destino do montante enviado aos estados, bem como a Mato Grosso do Sul”, destacou.
Ele ainda alertou, “como eu não votei nele, não indiquei nenhum município. Essa é a maior prova que eles estão querendo consolidar o apoio do Centrão, bem como da base aliada. Eles estão comprando voto descaradamente”, alertou.
Além disso, para Dagoberto agora é necessário saber o destino desse dinheiro. “Precisamos saber quais municípios, ou até mesmo quais empresas, foram beneficiados por essas verbas. Há denúncias de que existem muitos interesses por trás desses recursos e, por esse motivo, precisamos ter muito cuidado.”
Ele ressalta que “eu nunca vi uma corrupção como essa, pois o Congresso parece estar rendendo. Algo parecido talvez tenha acontecido no escândalo dos ‘Anões do Orçamento’ [1993].”,