Campo Grande (MS) – O ritmo de crescimento “medíocre” da América Latina e Caribe em 2018, como o chamou o Banco Mundial em seu último relatório, foi fortemente influenciado pela contração de 2,5% na Argentina, o crescimento anêmico do México e a lenta recuperação do Brasil após a recessão de 2015 e 2016. Esses três países – que representam quase três quartos da região – desinflaram as previsões do órgão multilateral, que havia estimado um crescimento de 1,8% para o ano passado que acabou sendo de 0,7%.
Carlos Vegh, economista da entidade responsável pela América Latina e o Caribe, se mostra otimista em relação às medidas econômicas que o Governo de Jair Bolsonaro pretende implementar e defende que realizar a reforma da Previdência enviada ao Congresso “é fundamental” para que o gigante regional se recupere da severa crise econômica em que esteve submerso nos últimos anos.
Vegh assinala dois fatores que prejudicaram o crescimento do Brasil: o déficit fiscal e as aposentadorias. “Em particular, é muito difícil crescer com um déficit fiscal de 7% do PIB”, diz o economista uruguaio, de 60 anos, ao mesmo tempo em que destaca que no ano passado existiram outros fatores internos – como a Lava Jato – e externos – como o aumento dos preços internacionais e o aumento dos juros da Reserva Federal (FED, o Banco Central dos EUA) –. A maior potência latino-americana estancou seu crescimento em 1,1% em 2018, ainda que o Banco Mundial projete que irá dobrá-lo nesse ano.
O banco está esperando o plano de ação de Bolsonaro: “Do ponto de vista exclusivamente econômico, acho que o Brasil está se recuperando sem pausa, mas sem pressa. O ministro da Economia, Paulo Guedes, está pensando as coisas de uma maneira positiva ao país”. O gigante brasileiro é responsável por 40% do PIB regional, de acordo com dados do próprio Banco Mundial com sede em Washington.
O Brasil gasta aproximadamente 12% de seu PIB na Previdência, “quando os países comparáveis desembolsam por volta de 8%”, diz Vegh. O Governo de Bolsonaro enviou ao Congresso um projeto de lei para reformar a Previdência que, segundo estimativas de Guedes, gerará economia próxima a 1 trilhão de reais em 10 anos. Analistas e investidores, entretanto, dizem que as economias finais geradas provavelmente ficarão abaixo disso, com uma estimativa de consenso próxima de 585 a 700 bilhões de reais, segundo a agência Reuters.
“A pergunta é se os políticos irão aprovar a lei como está ou irão ocorrer deliberações, mas desde que possam realizar a reforma, isso será fundamental”, diz Vegh. O Governo anterior fracassou em sua tentativa. Os políticos sabem que estão “encurralados e precisam cortar o gasto em aposentadorias e mudar o sistema a um privado”, disse Guedes na semana passada.
Algo que tranquiliza o economista do Banco Mundial é o manejo da política monetária, onde o país governado por Bolsonaro “está fazendo as coisas muito bem”. “Historicamente, o Brasil tendeu a ter juros altos, mas agora o Banco Central as reduziu muito [ 6,5% desde março do ano passado], um fator de estímulo à economia; a inflação está completamente sob controle. O novo presidente do Banco Central continuará com a política de seu antecessor Ilan Goldfajn, que foi muito acertada”, diz o economista do órgão multilateral.