Inflação para mais pobres encosta em 11% no acumulado de 12 meses

Publicado em: 18 out 2021

Campo Grande (MS) – A inflação acelerou em setembro e voltou a atingir com maior força o bolso dos mais pobres no Brasil, aponta estudo divulgado nesta sexta-feira (15) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O levantamento divide a população em seis faixas de renda. No mês passado, todas as camadas pesquisadas viram a inflação acelerar para 1% ou mais. A questão é que as famílias mais pobres amargaram, novamente, um aumento superior nos preços.

A situação preocupa porque essa camada tem menos condições financeiras para lidar com a carestia de itens básicos para o dia a dia. Entre eles, estão alimentos, energia elétrica e gás de cozinha. Em setembro, a inflação para as famílias com renda considerada muito baixa chegou a 1,30%, o maior avanço entre as faixas pesquisadas. O grupo é formado por brasileiros cujo rendimento domiciliar fica abaixo de R$ 1.808,79 por mês.

Com o resultado de setembro, a inflação para os mais pobres alcançou 10,98% no acumulado de 12 meses. Também é a maior alta entre os seis grupos investigados. “O cenário é desconfortável para todo mundo, mas é mais danoso para os mais pobres”, define Maria Andreia Parente Lameiras, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea.

A título de comparação, a inflação para as famílias com renda considerada alta foi de 1,09% em setembro. No acumulado de 12 meses, a variação dos preços atingiu 8,91% para os mais ricos. O grupo é composto por famílias com renda domiciliar acima de R$ 17.764,49.

Segundo o Ipea, as famílias com rendimento mais baixo foram impactadas, sobretudo, pelo aumento nos preços do setor de habitação em setembro.Dentro desse segmento, houve reajustes de 6,5% nas tarifas de energia elétrica, de 3,9% no gás de botijão e de 1,1% nos artigos de limpeza.

O bolso dos mais pobres também foi pressionado, ainda que em menor medida, pela alta nos alimentos no domicílio. Frutas (5,4%), aves e ovos (4%) e leites e derivados (1,6%) fazem parte dessa lista. Para as camadas com renda maior, o principal foco inflacionário em setembro veio do setor de transportes.

No mês passado, esse ramo de produtos e serviços teve o efeito dos reajustes de 2,3% na gasolina, de 28,2% nas passagens aéreas e de 9,2% nos transportes por aplicativo.Com orçamento bem mais restrito, os mais pobres acabam direcionando seu dinheiro especialmente para despesas como alimentação em casa, energia elétrica, gás de cozinha e aluguel.

Ao longo da pandemia, esses itens ficaram mais caros, o que ajuda a entender a escalada inflacionária maior entre as famílias com renda inferior. “É um cenário muito pior do que o imaginado inicialmente”, diz Maria Andreia.

Segundo a pesquisadora, a diferença entre a inflação dos mais ricos e a dos mais pobres, em 12 meses, tende a ser encurtada até o fim deste ano. Até dezembro, espera-se que os alimentos diminuam o ritmo de crescimento, se comparados à reta final de 2020, quando houve repique nos preços, diz Maria Andreia. É esse efeito estatístico que pode diminuir o acumulado para os mais pobres.

Ao mesmo tempo, a projeção é de retomada do setor de serviços, que tem peso maior no orçamento dos mais ricos. Com a demanda mais aquecida, a tendência é de uma inflação mais elevada, impactando quem dispõe de renda superior, segundo a pesquisadora.

“Os preços dos alimentos não devem cair. Devem subir menos. Isso tende a suavizar a curva de aumento para os mais pobres. Enquanto isso, além da pressão dos combustíveis, há a aceleração dos serviços para os mais ricos”, pontua. O estudo do Ipea ainda traz o recorte do aumento de preços no acumulado do ano, entre janeiro e setembro.

Nessa comparação, as famílias com renda média-baixa (entre R$ 2.702,88 e R$ 4.506,47) registraram a maior alta inflacionária. O avanço foi de 7,23%. ​

Fonte: Folha de São Paulo

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