Mais 22 ex-presidentes e premiês querem adiar escolha do chefe do BID

Publicado em: 28 ago 2020

Campo Grande (MS) – A pressão pelo adiamento da nomeação do próximo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), prevista para 12 de setembro, continua ganhando corpo. Após a movimentação do alto representante europeu para Política Externa, Josep Borrell, que no final de julho encaminhou carta a todos os países com capital no banco para propor o adiamento do processo para depois das eleições presidenciais dos Estados Unidos, uma ação apoiada poucos dias depois por vários Governos latino-americanos, incluindo os da Argentina, Chile e México, obteve nesta terça-feira a adesão de 22 ex-presidentes de países americanos, europeus e asiáticos.

Em uma carta, os chefes de Estado e de Governo reunidos sob a égide do Club de Madrid consideram que não existem circunstâncias para a realização da eleição no momento e pedem seu adiamento para março do próximo ano, “dando assim aos Estados membros a oportunidade de ter uma discussão profunda sobre o papel do BID, sua liderança e a resposta institucional apropriada para a recuperação da crise da covid-19″. Embora não mencionem explicitamente, o adiamento também impediria Donald Trump de levar à presidência da instituição um de seus colaboradores mais próximos e membro proeminente da ala do Partido Republicano com posição linha dura em relação a Cuba e Venezuela, Mauricio Claver-Carone, rompendo a norma não escrita que diz que a presidência da organização deve ficar em mãos de um latino-americano. Se o democrata Joe Biden vencer as eleições nos Estados Unidos em novembro —as pesquisas o situam como um claro favorito—, praticamente ninguém duvida de que ele tentará moderar os ânimos e renunciará a apresentar um candidato ao órgão.

Os 22 ex-presidentes e ex-chefes de Governo que assinam o texto, incluindo o ex-presidente de Governo (primeiro-ministro) espanhol Felipe González, o brasileiro Fernando Henrique Cardoso e os mexicanos Ernesto Zedillo, Vicente Fox e Felipe Calderón, sugerem a nomeação de um presidente interino que mantenha as rédeas do BID até meados do primeiro semestre de 2021, como já acontece na Organização Mundial do Comércio (OMC). “Atendemos ao chamado do vice-presidente e alto representante da União Europeia, vários Governos latino-americanos, ex-presidentes, ministros de Relações Exteriores, deputados e acadêmicos da região. A América Latina está atravessando um dos capítulos mais dramáticos de sua história recente, dadas as consequências devastadoras da pandemia (…) e o BID é uma das instituições multilaterais mais importantes. A decisão de quem deve liderar a organização nos próximos cinco anos é, portanto, uma das mais relevantes para o presente e o futuro da região”, destacam os ex-presidentes, entre os quais está a candidata ao comando do BID, a ex-presidenta da Costa Rica, Laura Chinchilla. “Uma decisão apressada poderia acabar enfraquecendo a instituição justamente quando a América Latina e o Caribe mais precisam dela.”

O BID canaliza todos os anos cerca de 12 bilhões de dólares (pouco mais de 65 bilhões de reais) em empréstimos para obras de infraestrutura básica no subcontinente. Se a eleição for realizada na data inicialmente fixada (12 de setembro), Claver-Carone tem todas as condições para assumir o comando do BID por ter obtido o apoio inicial de parte substancial dos países que fazem parte da capital da organização, incluindo Brasil e Colômbia. Mas, com três das cinco maiores economias latino-americanas defendendo o adiamento do processo (México, Argentina e Chile) e a pressão europeia fazendo sua parte, hoje o adiamento parece mais próximo do que nunca.

 

Fonte: El País.

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