Campo Grande (MS) – A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) estima que a inflação do Brasil vá convergir para a meta de 3% do Banco Central até o fim do ano que vem, segundo relatório publicado nesta segunda-feira (5).
O estudo prevê que o aumento de preços no país seja de 3,28% ao fim deste ano —já dentro do intervalo de tolerância do BC, de 1,5% a 4,5%. É uma expectativa mais otimista do que a do mercado, que, segundo o último Boletim Focus, estimou em 3,81% o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ao fim do ano.
Outros emergentes como Índia, Indonésia, México e África do Sul também devem ter a inflação convergente com a meta de seus bancos centrais, diz a entidade. A curva de aumento de preços é similar à de outros países, como os da zona do euro (com 2,57% de inflação neste ano) e os Estados Unidos (2,17%).
A organização, no entanto, afirma que “é cedo demais para confirmar se o episódio inflacionário que começou em 2021 acabou”, uma vez que os aumentos de preços ainda estão acima da meta em boa parte do mundo.
“As altas tensões geopolíticas representam um risco significativo de curto prazo para a atividade econômica e a inflação, especialmente se o conflito no Oriente Médio afetar os mercados de energia”, diz a entidade.
“O crescimento [da economia] também pode ser mais fraco do que o projetado se os efeitos persistentes dos aumentos passados nas taxas de juros forem mais fortes do que o esperado”, segundo a OCDE, que menciona o Brasil como “um dos primeiros a adotar uma política monetária restritiva significativa em 2021 e onde a inflação agora caiu acentuadamente em direção à meta.”
“A política monetária precisa permanecer prudente para garantir que as pressões inflacionárias subjacentes sejam duravelmente contidas. Existe margem para reduzir as taxas de juros à medida que a inflação diminui, mas a política deve permanecer restritiva na maioria das principais economias por algum tempo”, defende a OCDE, que cita Índia, Indonésia, México e África do Sul entre os países nos quais as taxas de juros ainda não foram flexibilizadas.
A OCDE estima um aumento de 1,8% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil neste ano, e um crescimento de 2% no ano que vem. São projeções 0,1 ponto acima das divulgadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) na última semana, que previa 1,7% para o país neste ano e 1,9% no próximo.
O crescimento global deve continuar “moderado”, na classificação da entidade, de 2,9% em 2024 e 3% em 2025. O crescimento moderado é também efeito de condições financeiras mais restritas, que afetam o mercado de crédito e imobiliário, e o comércio global permanece fraco, diz a OCDE.
“Ataques a navios no Mar Vermelho aumentaram os custos de transporte e alongaram os prazos de frete, afetando os cronogramas de produção e aumentando as pressões de preços.”
Os resultados de crescimento divergem entre os países, com “sinais claros de forte impulso de curto prazo na Índia, fraqueza relativa na Europa e crescimento moderado de curto prazo na maioria das outras grandes economias”, diz a OCDE.
Além de Índia (com crescimento do PIB estimado em 6,2% em 2024), Indonésia (5,1%) e China (4,7%) aparecem no topo das previsões da entidade neste ano. No pé da tabela estão França (0,6%), Alemanha (0,3%) e Argentina (-2,3%).
A Argentina é citada como um “caso excepcional”, com previsão de retorno de crescimento para 2,6% a partir do ano que vem. Segundo a OCDE, a perspectiva de inflação foi afetada por “fatores idiossincráticos”, “com taxas de inflação muito mais elevadas resultantes de políticas macroeconômicas frouxas no passado” —mesmo caso da Turquia, diz a entidade.
O país ora comandado por Javier Milei deve ter inflação de 250,6% neste ano, projeta a organização, que espera ver o índice cair para 64,7% ao fim de 2025. Já a nação de Recep Tayyip Erdogan pode ter 49,26% de inflação neste ano e 30,54% no ano que vem.
A OCDE afirma que a dívida pública está mais alta do que antes da pandemia e, “em muitos países, em níveis relativos ao PIB vistos apenas em tempos de guerra”. No Brasil, cresceu de 63% do PIB no último trimestre de 2007 para 83,5% no segundo trimestre do ano passado.
No Japão, caso mais expressivo, subiu de 153% há 17 anos para 240,5% no fim de 2022, último dado disponível. Nos EUA, de 64,35% em 2007 para 121% em 2022.
Para a OCDE, “as políticas fiscais precisam ser mais inteligentes”. “Os gastos do governo precisam se concentrar mais em investimentos nas áreas que impulsionam o crescimento sustentável. Especialmente no capital humano. Os recentes resultados do Pisa da OCDE mostram que os resultados educacionais estão caindo, assim como as necessidades de habilidades da economia futura estão aumentando”, diz o relatório.
“Os governos precisam adotar planos fiscais sustentáveis que equilibrem as necessidades intergeracionais e preparem as economias para o futuro.”
Fonte: FolhaPress