Petrobrás quer explorar gás de xisto em cidades de MS

Publicado em: 23 abr 2018

Campo Grande (MS) – A possibilidade de exploração de petróleo e gás em Brasilândia e Santa Rita do Pardo enfrentam um dilema. Ambos os municípios sul-mato-grossenses integram bloco adquirido pela Petrobras, em setembro do ano passado, que despertou alerta entre ambientalistas sobre o uso do fraturamento hidráulico para extração de gás do folhelho pirobetuminoso de xisto.

Dados da AIE (Agência Internacional de Energia) colocam o país com uma das dez maiores reservas de gás de xisto no mundo. Acessá-lo requer uso de técnica controversa que perfura o solo, ultrapassando fontes subterrâneas de água, para a extração de metano preso entre as camadas profundas de rocha. Um cano de aço, revestido por cimento injetado, leva produtos químicos e sua pressão causa fraturas que liberam o gás. Já areia, supostamente, mantém a porosidade para a migração do metano e evita que o terreno ceda. Isso pode vir ao Estado.

O engenheiro e coordenador da Coalizão Não Fracking Brasil, Juliano Bueno de Araújo, disse em audiência pública na Assembleia Legislativa, que utilizar a técnica não vale o risco ambiental e econômico a longo prazo com poluição da água e solo.

“A injeção de produtos químicos e radioativos causa danos ao fornecimento de água para a população e acidifica o solo, impossibilitando a produção de alimentos de origens vegetal e animal. Barreiras fitossanitárias para a exportação são realidade em vários países. Unidades que não mais produzem continuam contaminando com metais pesados e radioativos [o solo] por 30 a 50 anos, portanto não podemos assumir esse risco”, reforçou Juliano.

Na avaliação do secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, seria prematuro ter uma lei que proíba a extração do gás de xisto por não haver conhecimento sobre os impactos ambientais, potencial da reserva de gás existente e sua viabilidade econômica, que pode reduzir custos a clientes da estatal MSGás. São ao menos 54 municípios sul-mato-grossenses com áreas para exploração em potencial, conforme a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). 

“Não é o gás pelo gás. Temos que tomar cuidados para conhecer e poder licenciar. Não tenho dúvidas de que o Brasil caminha para o futuro, mas ainda temos situações para resolver em relação ao gás boliviano que é interessante para nós hoje”, destacou Verruck.

Chefe da assessoria de Gestão de Risco da ANP, Silvio Jablonski pontuou haver segurança no uso do fraturamento hidráulico. “Devemos olhar para onde há fato concreto, que é os Estados Unidos. Esse gás de xisto trouxe mais reservas e temos que aproveitar a janela de oportunidades porque gerações futuras não vão precisar de petróleo e o gás é a transição para as energias renováveis”

Cacildo Dagno Pereira (PSDB), prefeito de Santa Rita do Pardo, lembrou que tudo o que é novo gera preocupações. Ele usou como exemplo os transgênicos, mas quanto ao xisto foi mais cauteloso até diante da possibilidade de recebimento de royalties. “Desenvolvimento é bom, desde que seja sustentável. A gente precisa ver o ônus que isso vai trazer”.

 

Geóloga e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Sandra Gabas apontou ser preciso criar uma “geração de conhecimento” no próprio Estado para colaborar com o debate sobre a extração do gás de xisto e seus efeitos. “Não podemos fazer discussão com paixões, mas dados científicos”. (Reprodução/CGNews)

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