Selic sobe a 9,25% e deixará empréstimos mais caros

Publicado em: 09 dez 2021

Campo Grande (MS) – O  Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a taxa básica de juros, a Selic, em 1,5 ponto percentual. Elevando de 7,75% para 9,25%. 

É o maior choque de juros em quase 20 anos para tentar conter a inflação em alta. Como resultado os juros de outros financiamentos ficam mais caros, como o de financiamentos, cartão de crédito e cheque especial.

O doutor em economia Michel Constantino explica que o reflexo pode não ser imediato. 

“Quando se aumenta a Selic ela reflete nas outras taxas de juros, então os bancos, financeiras, vão fazer esse ajuste ao longo do tempo não é automaticamente.”

“Os contratos passados não tem nenhum reflexo, somente os futuros ou contratos de renda variável, onde temos alguns contratos que são ajustados com a taxa Selic”, analisa.

A última vez que o juro foi a 9,25% foi em julho de 2017, é o maior nível do governo Bolsonaro, quando o presidente chegou ao poder, a taxa Selic estava em 6,50%.

Foi o sétimo movimento consecutivo dos juros, após o BC cortar a taxa básica à mínima histórica (2%) em meio à pandemia. 

A mexida num prazo tão curto só fica atrás do ciclo iniciado no fim de 2002, em meio à eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Naquela oportunidade, a taxa básica de juros subiu 7,5 pontos em apenas três meses – de outubro de 2002 a janeiro de 2003, com uma alta final de 1 ponto em fevereiro, para 26,50%.

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– (Reprodução)

FINANCIAMENTOS

Em 2021 o juro saltou de 2% em fevereio para 9,25% em dezembro. A mudança brusca na Selic já impacta no financiamento de carros, por exemplo. 

O economista Marcio Coutinho explica que um mesmo empréstimo realizado com a taxa básica a 2% tem elevação no valor da parcela com a Selic no atual patamar.

“Vamos imaginar que uma pessoa vai financiar um carro de R$ 50 mil em 48 meses, considerando a taxa de juros de 2% e a Selic a 2% [praticada no início do ano] a parcela ficaria R$ 1.630 [sem considerar IOF e custos adicionais].” 

“Se o mesmo caso a taxa for a 9,25% ao ano o juro será de 2,58%, então a parcela vai a R$ 1.830”, exemplifica e completa.

“Se você fizer um empréstimo de R$ 40 mil em 60 meses, com juros a 2% ao mês você teria uma parcela de R$ 1.150, já com a nova Selic o juro iria a 2,58% essa parcela aumentaria para R$ 1.317. 

Já quem tomou dinheiro emprestado e tem os juros pré-fixados não terá alteração de valores”, diz.  

A Selic é chamada de “taxa mãe” por carregar muitos outros juros. O juro do cartão de crédito, do consignado, cheque especial, do carnê, também devem sofrer alterações nos próximos meses.

“O que temos que olhar é o futuro, mesmo aumentando de 8 para 9% não é que vai aumentar 1% em todas as taxas de juros, tem que ver o quanto cada banco vai elevar, porque cada um tem suas taxas de juros”, analisa Constantino.

Segundo o BC, em outubro o  juro bancário médio com recursos livres de pessoas físicas e empresas chegou a 32,8% ao ano, maior patamar em 19 meses.

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– (Reprodução)

INFLAÇÃO

O principal objetivo para aumentar os juros é a tentativa de frear o consumo e consequentemente conter a inflação que segue em disparada 

“Ao aumentar a taxa você aumenta os custos de empréstimos, financiamentos, e com a alta desses custos você aumenta outros produtos e diminui o consumo.” 

“Então você consegue frear a inflação. É por isso que o Banco Central tem elevado as taxas e deve aumentar mais no ano que vem”, avalia Constantino.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País, chegou a 10,67% em outubro-considerando o acumulado de 12 meses. 

Para novembro a prévia do índice aponta para 10,73% e os analistas de mercado apontam para fechamento de 10,18% em 2021.

O  doutor em economia e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), Mateus Abrita, explica que mesmo com esse impacto de alta do juro básico, a inflação não deve ser contida.  

“No caso da inflação é importante avaliar,  que a alta de juros tem um efeito mais indireto pra controlar a inflação que está muito mais relacionada com choque de custos [problemas com a pandemia, alta dólar, alta de combustíveis, alimentos e energia]. 

O Banco Central está lutando sozinho contra a inflação, pois as instabilidades e incertezas na política econômica tem atrapalhado nesse sentido.” 

“E o instrumento que o banco utiliza para combater a inflação é muito mais indicado para inflações oriundas de excesso de demanda”, analisa.

Ainda de acordo com o economista a mudança no juro básico não é suficiente, porque a inflação está alta por falta de produtos como no caso dos carros novos, elevação dos preços de combustíveis com a alta do petróleo no mercado internacional, alta dos alimentos, ou seja, inflação de custos.  

“Nesse cenário os juros acabam funcionando, mas você tem de colocar um aumento muito forte e como consequência acaba freando a economia”, detalha Abrita.

Fonte: Correio do Estado

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