PEC dos Precatórios abre R$ 33 bi no Orçamento de 2022

Publicado em: 11 ago 2021

Campo Grande (MS) – A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite o parcelamento de despesas do governo decorrentes de decisões judiciais (chamadas de precatórios) vai abrir um espaço de R$ 33,5 bilhões no Orçamento de 2022, caso seja aprovada. A informação foi divulgada pelo Ministério da Economia nesta terça-feira.

A PEC dos Precatórios foi enviada ao Congresso pelo governo como parte do pacote do novo programa social que irá substituir o Bolsa Família, batizado de Auxílio Brasil. O espaço aberto no Orçamento do próximo ano permitirá o pagamento do benefício dentro do teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas da União à inflação do ano anterior.

A economia prevista com a PEC é menor que o número que chegou a ser informado pelo governo nesta semana, de R$ 40 bilhões. A explicação do secretário de Orçamento Federal, Ariosto Culau, é de que a proposta mudou ao longo dos dias e os cálculos foram refinados.

— Não há nenhum uso dos números para gerar mais ou menos espaço — disse Culau.

COM PANDEMIA E SEM O AUXÍLIO EMERGENCIAL, POBREZA AUMENTA NO BRASIL1 de 8 

Com o alto preço do gás, Simone, de 49 anos, é obrigada a retroceder à lenha para cozinhar no quintal de casa Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Com o alto preço do gás, Simone, de 49 anos, é obrigada a retroceder à lenha para cozinhar no quintal de casa Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Vitória dos Santos Macedo, de 21 anos, era ambulante na praia. Com a pandemia, deixou de trabalhar. Vivendo com o marido no Vale dos Eucaliptos, em Senador de Vasconcelos, Zona Oeste do Rio, a casa deles não tem água encanada, nem fogão, nem geladeira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Vitória dos Santos Macedo, de 21 anos, era ambulante na praia. Com a pandemia, deixou de trabalhar. Vivendo com o marido no Vale dos Eucaliptos, em Senador de Vasconcelos, Zona Oeste do Rio, a casa deles não tem água encanada, nem fogão, nem geladeira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Simone Souza Bernardes, 49 anos. Ela e os filhos, Aline, 6 anos, Marcos e Naiara, de 15, vivem na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Simone Souza Bernardes, 49 anos. Ela e os filhos, Aline, 6 anos, Marcos e Naiara, de 15, vivem na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Dados mostram que, com impacto da queda de renda durante a pandemia, 14% dos brasileiros que não eram considerados pobres em 2019 estão nesta situação em 2021 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Dados mostram que, com impacto da queda de renda durante a pandemia, 14% dos brasileiros que não eram considerados pobres em 2019 estão nesta situação em 2021 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
No caixote onde Simone está sentada, estão guardados os poucos mantimentos que se tem para a família, um pouco de farinha e feijão Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
No caixote onde Simone está sentada, estão guardados os poucos mantimentos que se tem para a família, um pouco de farinha e feijão Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

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A pequena Aline come as migalhas de um bolo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A pequena Aline come as migalhas de um bolo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Casal Gustavo Moura e Naomi da Silva, no quartinho onde vivem no Jardim dos Eucaliptos, em Senador Vasconcellos. Eles estão sem trabalhar e esperam o primeiro filho Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Casal Gustavo Moura e Naomi da Silva, no quartinho onde vivem no Jardim dos Eucaliptos, em Senador Vasconcellos. Eles estão sem trabalhar e esperam o primeiro filho Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Júlio, que preferiu não mostrar o rosto, era lanterneiro e perdeu o emprego na pandemia. Com problemas na família, foi morar recentemente na rua, dormindo na Praça Jardim do Méier, Zona Norte do Rio Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Júlio, que preferiu não mostrar o rosto, era lanterneiro e perdeu o emprego na pandemia. Com problemas na família, foi morar recentemente na rua, dormindo na Praça Jardim do Méier, Zona Norte do Rio Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

O espaço aberto no Orçamento de 2022 é suficiente para bancar o gasto extra com o Bolsa Família e ainda sobrarão recursos para outras depesas, como investimentos. O programa social herdará R$ 35 bilhões do Bolsa Família e receberá ainda quase R$ 25 bilhões — fazendo o gasto anual se aproximar de R$ 60 bilhões.

Os que sobrar do Auxílio Brasil deve ir para outros gastos.

Todos os precatório de pequeno valor, abaixo de R$ 66 mil, sempre estarão fora da regra de parcelamento, de acordo com o Ministeiro da Economia.

Na prática, pela proposta, todos os precatórios acima de R$ 455 mil serão parcelados em dez anos (uma entrada de 15% mais nove prestações anuais). Serão duas regras de parcelamento para chegar a essa conta.

Regras de parcelamento

  • A primeira regra é a criação do conceito de “superprecatório”. Nesse caso, serão parcelados todos os precatórios superiores a R$ 66 milhões (mil vezes 60 salários mínimos). Essa regra abrange 47 precatórios e será uma norma permanente.
  • A segunda regra vale até 2029. A norma limita a despesa total com precatórios a um percentual de 2,6% da receita corrente líquida (disponível para gastar) acumulada 12 meses antes da requisição dos precatórios, que ocorre geralmente em junho. É uma forma de delimitar quanto pode ser pago em um ano.
  • Por essa regra, apenas precatórios abaixo de R$ 455 mil serão pagos à vista. Nesse caso, serão parcelados 8.771 precatórios.
  • O Ministério da Economia destaca que serão parcelados 3,3% de um total de 264.717 precatórios e que todos os de pequeno valor, abaixo de R$ 66 mil, sempre estarão fora das regras de parcelamento.

O secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Bruno Funchal, defendeu manter o pagamento dos precatórios dentro do teto de gastos. Antes mesmo da PEC chegar ao Congresso, a possibilidade de tirar toda essa despesa do teto já começou a ser discutida por líderes da própria base aliada.

— Tirando essa despesa do teto vai abrir um espaço significativo no teto. Imagina… Pode soar como oportunismo. Abre um espaço de R$ 50 bilhões num momento como esse. A gente acredita que nesse momento essa proposta que traz previsibilidade e compatibiliza com o teto é uma proposta melhor — disse Funchal.

Sem fundo de estatais para Bolsa Família

A PEC deixou de prever a transferência de recursos arrecadados com privatizações como “bônus” para beneficiários do novo Bolsa Família. Versões anteriores da PEC previam que a formação de um fundo para abater a dívida pública, antecipar o pagamento dos precatórios parcelados e transferir recursos para os mais vulneráveis.

O fundo que consta na PEC será abastecido com recursos advindos de dividendos das estatais — deduzidas as despesas de empresas dependentes do Tesouro —, desestatizações, vendas de imóveis da União, concessões e receitas do pré-sal, e a arrecadação decorrente do primeiro ano de redução de benefícios tributários.

Ficará fora do teto de gastos e não servirá para financiar diretamente o novo programa de renda.

A ideia era que 20% de cada operação fosse repassada para os beneficiários do novo Bolsa Família como um “extra”, fora do teto de gastos — regra que impede o crescimento das despesas da União. Outros 20% seriam para os precatórios e os 60% restantes para reduzir a dívida pública.

— A gente não quer misturar essas discussões agora — justificou o secretário de Tesouro e Orçamento.

 A PEC permite também fazer um encontro de contas entre a União e quem tem direito a precatórios. Isso poderá ser feito quando o beneficiário do precatório for devedor da União e também em valores devidos por estados e municípios.

Tramitação da PEC preocupa

Dentro do governo, a tramitação da PEC é vista com preocupação, já que a proposta é fundamental para viabilizar o novo Bolsa Família. Será preciso uma forte articulação para aprovar o texto, que precisa do apoio de 308 deputados e 49 senadores em dois turnos de votação em cada Casa.

Sem a PEC, o governo precisaria pagar R$ 89,1 bilhões em 2022 por causa de sentenças judiciais de que não pode mais recorrer. Esse número representa alta de 62% em relação ao valor previsto para este ano (R$ 54,7 bilhões) e que já vinha crescendo acima da inflação.

O pagamento dos precatórios consumiria todo o espaço necessário para o Bolsa Família e também reduziria o montante de outras despesas não obrigatórias, como investimentos. Por isso, o governo propôs uma PEC para parcelar suas dívidas judiciais em dez anos.

— Esse crescimento começa a inviabilizar o Orçamento. Se a gente faz uma retrospectiva comparando despesas de precatórios com gastos discricionários (livres do governo), em 2010 era 11% (das discricionárias). Em 2022, vai ser quase 70%. O problema que a gente tem das obrigatórias comprimindo as discricionárias vai ser maior em 2022 — disse Funchal.

O secretário negou também que a proposta se trate de uma contabilidade criativa:

— De criatividade, a proposta não tem nada. O parcelamento está na Constituição. A gente está compatibilizando uma regra que está na Constituição com o teto de gastos — disse.

Fonte: O Globo

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