Campo Grande (MS) – A Secretaria de Estado de Saúde (SES) investiga se um paciente infectado com Covid-19 que estava em Manaus (AM) pode estar infectado com a nova variante da doença, que circula no Amazonas e que foi uma das causas que colaborou para o colapso no sistema de saúde naquele estado.
A amostra será encaminhada esta semana para o Instituto Adolfo Lutz para sequenciamento genético.
De acordo com a SES, o monitoramento dos casos suspeitos é realizado pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul (Lacen-MS) em parceria com a Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica do Estado.
Quando a Secretaria recebe alguma amostra que dê positivo para Covid-19 de pacientes que estiveram em Manaus, ela é encaminhada ao Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para análise.
Além deste monitoramento, a Coordenadoria-Geral de Laboratórios solicitou que semanalmente a SES encaminhe três amostras ao Instituto.
“Todos os estados estão em alerta, porque há pesquisadores que sustentam evidências científicas de que provavelmente essa mutação já esteja em todos os estados do País. Por isso, já enviamos nossas amostras para o Instituto”, explicou a secretária adjunta de Saúde de Estado, Christinne Maymone durante a apresentação dos dados de ontem da Covid-19 no Estado.
Em janeiro de 2021, o Japão notificou o Brasil de que quatro viajantes com sintomas do novo coronavírus vindos do Amazonas estavam infectados com uma nova variante da doença. De acordo com comunicado de autoridades sanitárias do Japão, a nova cepa continha 12 mutações.
Segundo estudos feitos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Amazonas, a cepa teria surgido em Manaus, em dezembro, e vem se disseminando com rapidez na capital.
A variante, chamada de P.1, tem mutações na proteína spike, responsável por permitir a entrada do patógeno nas células humanas.
A P.1 é derivada de uma das variantes predominantes no País, a B.1.1.28. É provável que ela tenha maior poder de transmissão por causa da mutação N501Y, presente também nas variantes identificadas no Reino Unido e na África do Sul.
Outra mutação observada na cepa é a E484K, já associada em estudos a uma queda de anticorpos, o que pode favorecer reinfecções e até afetar a eficácia de vacinas.
Novas pesquisas estão sendo feitas para determinar se a variante brasileira e as demais afetariam o desempenho dos imunizantes.
A chegada dessa nova cepa já foi confirmada em São Paulo, que informou três casos de pacientes contaminados com o vírus que circula no Amazonas.
Para o médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, a disseminação dessa mutação “é preocupante [em Mato Grosso do Sul], assim como em todo o Brasil”.
“Temos de monitorar todo viajante que chega do Amazonas, identificar essas pessoas que passaram pelo estado do Amazonas, ver se tem algum sintoma, monitorar sintomas após 14 dias da chegada. Essa é uma forma de tentar conter a disseminação dessa cepa”, orientou o infectologista.
Os três casos de São Paulo são os primeiros registros da nova variante fora do Amazonas.
Estudo feito por cientistas do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde), que conta com pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), identificou que essa cepa encontrada no Amazonas tem maior potencial de transmissão.
OUTRAS VARIANTES
Na semana passada, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), informou em comunicado que as três mutações do novo coronavírus descobertas no Reino Unido, Brasil e África do Sul representam um elevado risco do aumento do número de infecções na Europa, que podem ter como consequência um aumento significativo nas internações e nas mortes.
As variantes do novo coronavírus contêm mutações-chaves na proteína S do Sars-CoV-2, que infecta as células humanas para se replicar, e elas já foram detectadas em vários países da Europa, segundo o Centro.
DA variante do Reino Unido, denominada N501Y, pode tornar o vírus mais transmissível, levar a reinfecções e ainda prejudicar a eficácia das vacinas, além de elevar a mortalidade por Covid-19. Os dados ainda são preliminares, o que exige mais pesquisa científica para comprovação.
Já a brasileira E484K, foi identificada no Rio de Janeiro e em variantes em Manaus, como a identificada em japoneses que estiveram no Amazonas.
Ela altera o domínio ligante do receptor (RDB), o que significa que ela modifica o ponto da proteína S em que o Sars-CoV-2 se liga às células humanas.
No caso da variante sul-africana, especialistas publicaram um estudo que alerta para a possibilidade dessa variante evitar a ação de anticorpos que a atacam a doença.
Isso foi identificado em tratamentos com plasma sanguíneo de pacientes previamente recuperados e pode reduzir a eficácia das vacinas. Estima-se que a 501Y.V2 seja 50% mais infecciosa do que as anteriores.
Ela já foi identificada em, pelo menos, 20 países desde que foi relatado à Organização Mundial da Saúde (OMS) no final de dezembro, um deles foi o Brasil.
Segundo a OMS, as novas variantes do coronavírus identificadas até agora parecem não afetar os programas de vacinação com os imunizantes já disponíveis e aprovados nos países.
No entanto, ainda não há comprovação de que as vacinas ofertadas no Brasil, Coronavac e Astrazeneca, são eficazes contra essas cepas.
CAOS NO AMAZONAS
Uma análise preliminar feita por pesquisadores brasileiros e britânicos mostra que a nova variante do coronavírus originária do Amazonas deve ter se tornado predominante em Manaus. O avanço da cepa é apontado como uma das razões para a explosão de casos na cidade e o consequente colapso no sistema de saúde local.
No estado do Amazonas, os hospitais estão atuando acima da capacidade de atendimento e muitos pacientes já morrerem sem conseguir atendimento pelo número de casos registrados em pouco tempo.
Além disso, uma crise de falta de oxigênio também causou a morte de dezenas de pessoas em Manaus e no interior do Estado.
Devido à situação, Mato Grosso do Sul ofereceu 10 vagas em unidades de terapia intensiva para Amazonas, já que é necessário que pacientes sejam transferidos da região porque a crise de abastecimento de oxigênio continua e os hospitais estão superlotados. (Com Estadão Conteúdo)
Fonte: Correio do Estado