Campo Grande (MS) – A sinalização da redução na produção de gás natural pela Bolívia pode terminar de inviabilizar um grande projeto de Mato Grosso do Sul, Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3). A fábrica de fertilizantes localizada em Três Lagoas tinha como principal matéria-prima o gás vindo do país vizinho. A projeção é que a planta consumiria, por dia, pelo menos 2,3 milhões de m³ de gás natural (matéria-prima), com capacidade de produção de 3.600 toneladas de ureia por dia e 2.200 de amônia.
A fábrica integrava um consórcio composto por Galvão Engenharia, Sinopec (estatal chinesa) e a Petrobras. Quando foi lançada, a planta estava orçada em R$ 3,9 bilhões. Conforme projeção da gestão estadual, a fábrica geraria 9 mil empregos indiretos e mil diretos após funcionamento. Após a Operação Lava Jato, as obras pararam em 2014 com 81% da planta concluída. A Petrobras absorveu todo o empreendimento. Em 2018, começou a ser oferecida ao mercado, mas até o momento não houve resolução na continuidade do empreendimento.
Conforme publicado no Correio do Estado, na edição de 1º de novembro, entre 2014 e 2020, a capacidade de produção do gás já reduziu em 28% e dados locais apontam que a atual obtenção do combustível está em 44 milhões de m³ ao dia. Para o Brasil, o contrato de exportação chegava a 30 milhões de m³ dia de demanda e foi reduzido para 20 milhões de m³/dia. Consequentemente, a exportação para o Brasil também pode ser ainda menor, o que deixa o projeto de retomada da fábrica ainda mais distante.
Ao jornal El Deber, o ex-ministro Mauricio Medinaceli, disse que as exportações bolivianas de gás passam por um momento “muito frágil”, porque o país não tem capacidade para atender às demandas dos mercados argentino e brasileiro.
O governador Reinaldo Azambuja confirmou ao Correio do Estado que já há uma redução no volume de gás enviado ao País. “Hoje, o contrato de importação da Petrobras, pela Gaspetro, com o governo boliviano já está reduzido. Isso ocorre também pela falta de investimentos em prospecção, que é tirar o gás do subsolo da Bolívia”.
Azambuja ainda pontua que é uma situação que precisa ser tratada com urgência para ser resolvida. “Espero que isso venha a ser resolvido. O gás é uma fonte de energia importante, é limpa. Com certeza, é ruim para Mato Grosso do Sul [a redução de fornecimento de gás], porque pode paralisar algumas atividades econômicas”.
– Arquivo/Correio do Estado
VENDA
A venda da indústria localizada na região do Bolsão teve início em 2018, junto à Araucária Nitrogenados (ANSA), fábrica localizada na Região Metropolitana de Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.
Já em meados de 2019, a gigante russa de fertilizantes, Acron, havia fechado acordo para a compra da empresa. O principal motivo para que o contrato não fosse firmado na época foi a crise boliviana que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales.
A Bolívia desde o início foi incluída no projeto como fornecedor oficial do gás natural, além disso, a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) era sócia com 12% do negócio, com opção de ampliar a participação para 30%.
Já em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda da UFN3. Dessa vez, a estatal ofereceu ao mercado a unidade de forma individual, e não mais em conjunto com a ANSA. A expectativa era de que mais compradores entrassem na briga.
O titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, havia confirmado no início do ano que a venda seria concluída até o dia 28 de março deste ano. Mas desde o anúncio da mudança de comando da Petrobras, em fevereiro, não houve mais avanços nas tratativas.
Redução de gás natural pode “enterrar” fábrica de fertilizantes –
“Não temos nenhuma novidade nem cronograma. Está parado totalmente, depois que a Petrobras trocou a presidência, a gente não tem mais nenhuma informação. A gente não está tendo informação em relação a isso. Os editais eram para ser republicados. E depois da mudança de presidência a gente não viu mais nada”, disse o secretário.
Consultada, a estatal confirmou que não há novas tratativas para a continuidade do negócio.
SUCATEADA
Além da inviabilização com a redução da produção de gás natural, a obra fica cada vez mais desinteressante financeiramente. O complexo que tinha mais de 80% da estrutura construída está se deteriorando com o tempo.
O secretário Jaime Verruck afirmou que como está há sete anos parada, o prejuízo com a planta fica cada vez maior.
“Quanto mais tempo esse projeto demorar para ser retomado, maior será o custo, maior será necessidade de investimento e maior será a necessidade de alteração de tecnologia”, afirmou.
Fonte: Correio do Estado