Campo Grande (MS) – Em encontro com governadores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta terça-feira um movimento de pressão ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a aceleração da queda da taxa básica de juros, que está em 12,25%.
— Nós temos que mexer com o coração do presidente do Banco Central, ‘reduz um pouco o juro, que as pessoas estão querendo tomar dinheiro emprestado’. Os governadores podem ajudar, fazer pressão — disse, em cerimônia sobre o financiamento dos Bancos Públicos para investimentos nos estados.
- O Banco Central iniciou o ciclo de corte da Selic em agosto. Desde então, a taxa (nominal) caiu de 13,75% para 12,25%;
- A próxima queda, decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), deve ser anunciada nesta quarta-feira;
- Assim, o juro básico da economia deve terminar o ano em 11,75%;
- Isso porque os oito diretores e Campos Neto entendem que o ritmo de queda em 0,50 ponto percentual seria o mais apropriado.
Na avaliação do governo, indicadores positivos para a economia brasileira – como o número de 2 milhões de empregos formais projetados para 2023 – poderiam ter tido um desempenho melhor se não fosse o custo de crédito elevado.
O Banco Central começou o ciclo de elevação da Selic em 2021, para controlar a alta de preços provocada a partir dos efeitos da pandemia na economia. A taxa máxima nesse processo foi de 13,75% – estagnada neste nível no período de agosto de 2022 a agosto de 2023.
Como as mudanças na Selic demoram de 6 a 18 meses para ter impacto pleno na economia, qualquer decisão sobre a redução do juro não será integralmente sentida, de imediato.
No evento desda terça-feira, o presidente Lula também avaliou que uma das propriedades de bancos públicos como BNDES e Caixa Econômica Federal deve ser a garantia de empréstimos para estados e municípios, e patrocinar investimentos nos entes federativos.
—Se o Tesouro (Nacional) Não tiver dinheiro, o BNDES vai ter dinheiro e o BNDES vai financiar — declarou. — Se não tiver dinheiro a gente tem que correr atrás. Não dá para apenas constatar que não tem dinheiro e fica quieto. Em alguns lugares nós temos que ter — complementa.
Próximos passos
O atual patamar da Selic está longe do desejo do governo. Sempre que questionado publicamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nega cravar um número considerado ideal pela Fazenda, mas dá indicações. No sábado, ele criticou o fato de a Selic terminar o ano em 11,75%, quando a inflação está próxima de 4%.
Na última ata do Copom, que detalha a decisão sobre juro, os oito diretores e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, “anteveem” cortes de 0,50 ponto percentual “nas próximas reuniões”.
Eles também avaliam que esse “ritmo (é) apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
O corte está sinalizado para, pelo menos, duas reuniões à frente. Essa é a interpretação apresentada pelo próprio Campos Neto em palestra na última semana.
O Banco Central continua com a lupa para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação como risco. As pressões inflacionárias globais e inflação de serviços são alguns dos indicadores mensurados com atenção.
Cobrança desde o começo do ano
O ano de 2023 foi marcado por pressão direta do presidente Lula a Campos Neto – indicado na gestão de Jair Bolsonaro e o primeiro chefe da autarquia monetária com a autonomia operacional regulamentada.
- O BC tem a prerrogativa de decidir sobre a taxa de juros sem nenhuma ingerência política;
- Além disso, o mandato de presidente da República não coincide mais com o mandato do chefe do BC;
- Campos Neto fica no cargo até 31 de dezembro de 2024.
O presidente do Banco Central vem defendendo com recorrência, em pronunciamentos públicos, a condução da política monetária durante seu mandato e dos diretores da instituição.
Segundo estudo realizado pelo BC, apresentado em abril desde ano, se o Comitê de Política Monetária (Copom) não tivesse iniciado o ciclo de aperto monetário em 2021, a inflação para 2023 chegaria a 10%. Com isso, a estimativa é que a taxa básica de juro precisaria chegar a 18,75% para controlar a inflação.
O presidente do Banco Central diz que a instituição atua em um processo chamado tecnicamente “suavização da política monetária”. Ou seja, o equilíbrio entre a alta de juros para conter a escalada de preços e a necessidade de evitar os efeitos negativos no desempenho da economia.
Fonte: O Globo