“Obscena desigualdade” fragiliza Brasil em pandemia

Publicado em: 23 abr 2020

Campo Grande (MS) – A grande população vulnerável do Brasil coloca o País em uma situação econômica muito frágil diante da pandemia do novo coronavírus, de acordo com o ex-presidente do Banco Central Persio Arida e o economista Eduardo Giannetti. Em debate virtual no painel de abertura da 6.ª edição da Brazil Conference at Harvard & MIT nesta quarta-feira, 22, ambos criticaram a atuação do presidente Jair Bolsonaro na crise.

O encontro, que neste ano tem parceria do Estado, é organizado pela comunidade brasileira de estudantes em Boston, nos Estados Unidos, para promover o debate entre líderes do País. Esta edição será toda realizada por meio de videoconferência por causa da pandemia. O Estado fará a cobertura exclusiva em suas plataformas.

O debate entre os dois economistas tratou da situação econômica do Brasil diante da crise mundial desencadeada pela covid-19. “A obscena desigualdade social fragiliza o Brasil em uma situação como essa”, defendeu Giannetti. Para ele, o contexto de 40 milhões ou mais de brasileiros sem situação regular de emprego dificulta o acesso às políticas de suporte social. “O governo muitas vezes não tem nem como chegar a essas pessoas, pois elas não têm uma existência na vida civil. É um complicador no momento em que precisamos transferir recursos para grupos sociais vulneráveis.”

Persio afirma que temos hoje um Estado “gigante” e “disfuncional” que promove desigualdades. “Como ele faz isso? Nas diferenciações de regimes tributários, pelos elevadíssimos salários do setor público.” Para ele, o governo Bolsonaro não tomou medidas essenciais para reduzir a desigualdade antes da crise. Reforma tributária, reforma administrativa e abertura comercial foram pontos críticos citados pelo ex-presidente do Banco Central que devem ser feitos no País para mudar esse cenário.

A atuação do executivo federal também é uma fragilidade para o País em meio à pandemia, afirma Giannetti. “Temos um governo disfuncional. Um presidente que manda sinais completamente contrários ao que é o comportamento correto e que está em conflito aberto com outras instancias da república”, afirma o economista. Ele criticou ainda o esvaziamento do ministério da Saúde, após demissão do ministro Luiz Henrique Mandetta, que tornou a pasta “completamente inoperante e sem conhecimento do que fazer”.

O debate entre os dois economistas tratou da situação econômica do Brasil diante da crise mundial desencadeada pela covid-19. O encontro virtual é o painel de abertura da 6ª edição da Brazil Conference at Harvard & MIT, evento que conta com a parceria do Estado.

Persio defendeu que o atual governo tem sido “uma tragédia na área da educação” e toma medidas que prejudicam a produtividade do País, dois aspectos indispensáveis para o crescimento. Além disso, ele criticou o governo por ainda não ter enviado ao Congresso as propostas de reforma Administrativa e Tributária.

SubTrump

Durante a sua fala, Giannetti se referiu ao presidente da República, Jair Bolsonaro, como “SubTrump”, em referência ao alinhamento ideológico entre o mandatário e seu correspondente norte-americano, Donald Trump.

Para o economista, a reação de Bolsonaro e Trump no primeiro momento da pandemia foi “igualzinha”, exemplo do mesmo “negacionismo” que eles praticam em relação à mudança climática. A diferença, no entanto, se deu no desenrolar da crise. “Trump foi muito mais ágil em mudar a sua posição do que o nosso ‘Subtrump'”.

Dívida pública

A sustentabilidade da dívida pública brasileira deve ser um tema que virá com força após a pandemia do novo coronavírus, avalia Giannetti. Segundo ele, o Brasil estava começando a ter mais estabilidade, após a reforma da Previdência e de um esforço para conter o gasto público que começou no governo de Michel Temer.

“Infelizmente, dado o imperativo de gasto público e a queda de arrecadação, ambos produzidos pela pandemia, vamos ter, novamente um saldo grande de endividamento público. A preocupação e apreensão não devem ficar apenas para o futuro, mas desde já, na percepção de que essa dívida pode não ser sustentável.” (Reprodução/Terra)

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