Para Campos Neto, críticas de Lula atrapalham o Banco Central: ‘Não é opinião, é constatação’

Publicado em: 28 jun 2024

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou nesta quinta-feira, 27, as críticas feitas a ele e à instituição pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Para Campos Neto, há uma “constatação”, e não opinião, de que os principais ativos financeiros são afetados pelos pronunciamentos de Lula. E isso se reflete em um piora das expectativas, dificultando o trabalho do Comitê de Política Monetária (Copom).

“O que se mostrou no passado recente – e não é opinião minha, é constatação – é que, se a gente olha os movimentos de mercado em tempo real com os pronunciamentos, o que se mostrou é que você teve piora em algumas variáveis macroeconômicas, em alguns preços de mercado. Então, é óbvio que, quando você aumenta o prêmio de risco, ele obviamente faz com que o trabalho fique mais difícil ao longo do tempo”, afirmou.

Para Campos Neto, isso faz com que a política monetária perca potência – o que, em outras palavras, obriga o Banco Central a calibrar a taxa Selic em um patamar mais alto.

“O nosso modelo trabalha muito fortemente pelo canal das expectativas, e quando você tem prêmio de risco, ele influencia o canal das expectativas e, influenciando o canal das expectativas, ele influencia a potência do canal de política monetária, que é o que é relevante no nosso dia a dia”, afirmou. Campos Neto disse, porém, que Lula tem o direito de se manifestar.

rojeção de crescimento do PIB de 1,9% para 2,3% este ano, mas também elevou suas estimativas para o IPCA, em relação ao Relatório anterior. Para 2024, o número subiu de 3,5% para 4%, e para 2025, de 3,2% para 3,4%, no cenário de referência. Já para 2026, o número foi mantido em 3,2%, ainda acima da meta de 3%.

Nos próximos meses, o BC espera uma aceleração na inflação acumulada em 12 meses, que atingirá o pico de 4,35% nos meses de junho e julho, muito próxima do teto da meta de 4,5%. Uma das explicações para essa alta são efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul, que impactaram os preços dos alimentos e atenuaram uma sazonalidade que normalmente é positiva para a inflação no meio do ano.

Desde o último Relatório de Inflação, os juros futuros aumentaram em toda a curva negociada pelo mercado, mesmo com a queda nominal da taxa Selic. Segundo o BC, as condições financeiras pioraram nesse período.

Lula: ‘quem apostar contra o real vai quebrar a cara’

Já no Palácio do Planalto, durante reunião do chamado “Conselhão”, que reúne empresários e ministros do governo para debater medidas econômicas, o presidente Lula disse que o dólar na quarta-feira subiu “15 minutos antes” de sua entrevista, pela manhã, motivadas por fatores externos. Visivelmente irritado, o presidente chamou de “cretinos” os que disseram que a moeda americana havia se valorizado por sua causa.

“Veja o que aconteceu ontem (quarta, 26), quando terminei a entrevista, a manchete de alguns comentaristas era de que o dólar subiu pela entrevista do Lula. Os cretinos não perceberam que tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista. Ou seja, esse mundo perverso das pessoas colocarem para fora o que querem, sem medir responsabilidade é muito ruim”, afirmou.

O presidente ainda relembrou as apostas feitas por empresas com derivativos, na crise de 2008, que levou à quebra de companhias como a Sadia e a Aracruz Celulose.

“Quem quiser apostar em derivativos vai perder dinheiro neste País. As pessoas não podem ficar apostando no fortalecimento do dólar e no enfraquecimento do real. Eu vi isso em 2008, quem não lembra o que aconteceu com várias empresas? Elas quebraram a cara e vão quebrar outra vez”, disse Lula.

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