Campo Grande (MS) – O crescimento de 2021 veio dentro do esperado, 4,6%, mas houve surpresa positiva no último trimestre, com 0,5%. Isso aumenta o efeito estatístico herdado por 2022. Contudo, a guerra adicionou um grau enorme de incerteza sobre o crescimento de 2022. Pode haver uma série de revisões para cima nas projeções deste ano, mas lembrando que a mediana estava em torno de 0,3%. Contudo, a duração da guerra e das sanções tornam o horizonte muito incerto.
O crescimento de 4,6% em 2021 vem depois de uma retração de 3,9% em 2020. Ou seja, na média, as perdas com a pandemia foram repostas. Voltamos do tombo. E ainda houve um pequeno crescimento “líquido” nesses dois anos. Porém os economistas não acreditam que esse ritmo seja sustentável, e o PIB deve voltar a crescer entre zero e 1% este ano. Apesar de o PIB ter se recuperado, o PIB per capita não conseguiu compensar a queda, teve alta de 3,9% em 2021 depois de uma queda de 4,6% em 2020.
A agricultura teve um ano difícil em 2021, e encolheu, 0,2%, mas foi uma das boas surpresas do final do ano com um crescimento robusto de 5,8%. Esse é o setor que pode mais duramente ser atingido pela guerra de Putin pelo risco de falta de fertilizantes.
Há algumas boas notícias no indicador divulgado hoje pelo IBGE. A taxa de investimento chegou a 19,2% do PIB, o maior percentual desde 2014. Isso aconteceu porque a taxa de poupança também subiu, para 17,4% e permitiu o financiamento dos investimentos. E mais investimento sempre aponta para crescimento futuro. Com a forte alta da Selic pelo Banco Central, no entanto, a tendência é que esse número volte a cair.
Outro dado importante é que o PIB do quarto trimestre subiu 0,5%, acima das projeções do mercado, em torno de 0,2%. Segundo o economista-chefe do banco Alfa, Luis Otávio Leal, o carregamento estatístico para 2022 deve subir de zero para 0,3%. A grosso modo, isso quer dizer que a mediana das estimativas de mercado – hoje em 0,3% no Boletim Focus – pode subir para 0,6%.
A surpresa no número do quarto trimestre, explica Leal, veio nos serviços, que o mercado apostava em queda, mas veio com alta de 0,5%, e no consumo das famílias, que saltou 1,5%.
O que houve em 2021 foi a recuperação das perdas de 2020, com pouco crescimento, de fato. Olhando para frente, o país enfrentará várias dificuldades. A inflação permanece elevada, ainda em dois dígitos, o Banco Central levou a Selic para 10,75%, e o mundo enfrentará as consequências da invasão da Rússia à Ucrânia, com todas os efeitos colaterais do conflito e das sanções aos russos.
Por outro lado, o governo Bolsonaro tem adotado uma série de medidas de estímulo no ano eleitoral para tentar melhorar o clima econômico e ajudar na tentativa de reeleição, que podem ter efeito duplo: aumentar o consumo, mas também elevar a desconfiança em relação às contas públicas.
A invasão da Rússia à Ucrânia é um complicador enorme, porque o Brasil já estava pior do que o mundo, tanto em projeção de crescimento quanto na inflação, e agora os dois indicadores pioram. Já é certo que haverá mais inflação global, pelos choques nos mercados de energia e de alimentos. E deve ocorrer novos problemas nas cadeias de suprimento, o que afetará diversas indústrias. Mas a notícia do dia é boa: voltamos do tombo, e houve até umas boas surpresas nos dados do IBGE.
Por Miriam Leitão
Fonte: O Globo