A caixa de ovos com tradicionalmente 12 unidades agora vem com 10. O pacote de milho para pipoca de 500g praticamente não é mais visto nas gôndolas, mais fácil encontrar a opção com 400g. O óleo de soja que era de 1 litro, passou a ser ofertado com 900ml. Esses são alguns exemplos da chamada reduflação, um termo com origem na língua inglesa (shrinkflation), que une as palavras ‘redução’ e ‘inflação’ para definir o aumento do custo de um produto sem necessariamente o aumento do preço. É quando a indústria não encarece o produto, mas reduz seu tamanho ou quantidade.
Isso não é exatamente uma novidade, a indústria, não só de alimentos, mas de medicamentos também, tem essa estratégia, que não é proibida. Isso também não é exclusividade do Brasil. Indústrias do mundo inteiro adotam a prática.
A exigência legal é que a redução de quantidade de produto deve ser informada aos consumidores. E isso é feito geralmente com anúncio de “nova embalagem” pelo fabricante. Vai depender do nível de atenção do consumidor para se atentar às informações.
Com o impacto nas cadeias produtivas e de logística causado pela pandemia, o que levou ao aumento de preços de insumos e matérias-primas, essa estratégia da reduflação passou a ser mais comum. No Brasil, somente em 2023, foram identificados 24.570 produtos que passaram por esse processo, de acordo com um levantamento feito pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação).
“Essa estratégia se amplia cada vez mais. Em 2023 cresceu muito. E como o consumidor não tem tanta memória de preço, tem ainda muita variação de preços e produtos, acaba não percebendo a mudança. E a reduflação esconde a inflação”, diz Gilberto Luiz do Amaral, advogado tributarista do IBPT que coordenou a pesquisa.
Pela legislação, o código de barras de um produto traz informações sobre as características dele. Se altera o peso, por exemplo, o fabricante deve criar um novo código de barras para identificar aquele item. Foi a base que o IBPT usou para fazer o levantamento, identificando quantos produtos ganharam novo código de barras com peso ou tamanho do conteúdo menor que o padrão de fabricação até então.
“Foi interessante de se analisar o código de barras. Neste estudo, observou-se que a taxa de reduflação ficou na casa de 20% a menos na quantidade do produto”, diz Amaral
No caso dos ovos, por exemplo, a mudança de 12 para 10 significa uma redução de 16,67% na quantidade do produto, com pouco alteração na embalagem. O caso da pipoca, segundo Gilberto Amaral, foi o mais emblemático, com a grande maioria passando de 500g para 400g, redução de 20%.
Compre 3 pague 2 – só que não
Gilberto chama a atenção para o tipo de promoção na linha “compre 3 pague 2” – bastante comum no varejo. Isso, porque, com a reduflação, se for considerado a quantidade total dos três produtos ofertados, ela pode se igualar ou ficar muito próxima à quantidade de duas unidades antes da redução.
Outro exemplo é o óleo de soja, especialmente para quem faz uso em maior escala, por exemplo, uma pastelaria. Se antes a lata continha 1 litro e eram necessários 24 litros de óleo para o uso de uma fritadeira, logo, 24 unidades atendiam a essa necessidade. Com a redução para 900ml, 10% menor, são necessárias agora 27 unidades (26,666).
Veja a lista* das categorias de produtos que mais sofreram reduflação:
- Açúcar
- Arroz
- Biscoitos
- Chocolates
- Chiclete (goma de mascar)
- Creme de leite
- Óleo de soja
- Ovos
- Pipoca
- Produtos de limpeza
- Sal
- Salgadinhos (tipo chips)
*não estão em ranking de maior para menor
O que pode ser feito?
Como a legislação não proíbe a prática, cabe ao consumidor estar atento e comparar preços. Além da vigilância constante dos órgãos de fiscalização e de defesa do consumidor, Gilberto Amaral sugere que a indústria faça essa comunicação de mudança antes que ela seja efetivamente implementada. Mas Gilberto Amaral reconhece as dificuldades, na prática, para essa comunicação. “Onde mais se constata reduflação são em supermercados e farmácias. Justamente onde a população vai com pressa.”