Dívida dos inadimplentes de MS alcança R$ 5,86 bilhões

Publicado em: 22 mar 2024

Quase a metade da população adulta do Estado está com alguma dívida em atraso, proporção maior que a brasileira; maioria dos inadimplementos tem origem em relações com bancos e cartões

A soma das dívidas dos 1.057.788 inadimplentes de Mato Grosso do Sul chega a R$ 5,86 bilhões, indica levantamento da Serasa Experian. O número foi revelado ontem pela empresa, uma das maiores do mundo em gestão de informações financeiras, que promove em Campo Grande um mutirão para, justamente, tentar reduzir este número de pessoas com “a corda no pescoço”. 
Quando comparado com a população adulta de Mato Grosso do Sul, o volume de inadimplentes do Estado chega a 49,42% deste grup, tornando o Estado o sétimo no Brasil em volume da proporcional da população economicamente ativa com dívidas em atraso. Para efeito de comparação, são 2,13 milhões as pessoas economicamente ativas de MS, número que não considera crianças e outras pessoas civilmente incapazes. 
No Brasil, o volume de inadimplentes equivale a 43,85% da população adulta. São 72,03 milhões de pessoas com dívidas em atraso, cuja soma destas dívidas alcança R$ 382,2 bilhões. 
Em termos proporcionais, a situação em Campo Grande é aparentemente mais grave, porque o volume de inadimplentes chega a 409.805, com uma dívida somada de R$ 2,62 bilhões. A cidade tem 897 mil moradores, entre economicamente ativos e os que não se inserem neste grupo. 
Esta dimensão é possível ter quando se compara o valor médio da dívida de cada cidadão em cada plano de comparação, o chamdo “ticket médio”. No Brasil. o ticket médio de dívidas por inadimplente é de R$ 5.306,27, já em Mato Grosso do Sul é ligeiramente maior: R$ 5.545,29. Em Campo Grande, por sua vez, o valor médio da dívida por inadimplente salta para R$ 6.403,92. 

ORIGEM DAS DÍVIDAS


Em Mato Grosso do Sul a maioria das dívidas em atraso são com instituições bancárias e com cartões de crédito: 32,25% do total. No Brasil, este mesmo segmento também lidera, porém com um percentual menor: 22,67%.
No Estado as dívidas com as financeiras, aquelas empresas que oferecem empréstimos fáceis, com poucas garantias, representam 17,72%, o segundo maior grupo. No País, este grupo é o terceiro colocado (17,17%) das dívidas, porque vem depois das utilities, as empresas de serviços contínuos, como distribuidoras de água e energia, origem de 22,67% dos inadimplentes. Em Mato Grosso do Sul as utilities respondem por apenas 11,11% das dívidas não adimplidas. 
Serviço (14,99%) e varejo (14,82%) são os terceiros e quarto colocados quando o assunto é origem das dívidas em MS. Por último aparecem as companhias de telefonia e internet (3,84%) e as securitizadoras (compradoras de dívidas), com 1,55% do total dos contratos não adimplidos. 

“O acesso fácil ao crédito pode levar as pessoas a gastarem mais do que realmente podem pagar”
Lucas Mikael, mestre em Economia

SEGMENTO


Quanto ao gênero, os homens levam vantagem entre os inadimplentes no Estado: são 52,1% do total, contra 47,9% de mulheres. No Brasil é diferente, as mulheres são uma ligeira maioria: 50,4% contra 49,6% dos homens. 
Quanto a idade, as pessoas com idade entre 41 e 60 anos são os mais inadimplentes: 35,5% do total, seguidos de perto pelo grupo com idade entre 25 e 40 anos, que representam 34,8%. Os idosos, com mais de 61, são 17,5%, e os jovens que têm até 24 anos de idade, são 12,1%. 

ANÁLISE


Ao Correio do Estado, o especialista da Serasa Brasil, João Pedro Teixeira, destaca que ao considerar Mato Grosso do Sul, dentre os 1,057 milhão de cadastros de pessoas físicas (CPFs) negativados a maioria é de homens, sendo 52% do sexo masculino contra 47% do sexo feminino.
“Quando olhamos a idade, eles se concentram entre 26 anos e 40 anos (35,5%). São pessoas ativas e trabalhando. Outros dados que chama mais atenção são o de pessoas entre 41 a 60 anos  (34,8%) que estão em vínculo empregatício e devem”, aponta.
Em análise aos dados o mestre em economia Lucas Mikael explica que o aumento da inadimplência é uma consequência direta da crise nacional, a qual é caracterizada pela recessão econômica, taxas de juros elevadas e um crescimento econômico estagnado. “Esses fatores têm um impacto significativo na capacidade das pessoas de cumprir com seus compromissos financeiros”.
O economista e sócio da WGSA Gestão Empresarial Renato Gomes acrescenta que, de acordo com dados do Banco Central, os juros do rotativo do cartão de crédito estão em 440% ao ano, alta de quase 30 pontos porcentuais. “Embora a tendência do juro-base da economia, a taxa Selic, apresente queda, saindo de 13% para 11%, ela é o oposto do que está acontecendo na ponta para o consumidor”, o que segundo ele pode estar contribuindo para um aumento na base de inadimplentes de MS.
Lucas Mikael, ressalta que os cartões de crédito e as instituições financeiras contribuem como maiores segmentos a gerar atrasos por diversas razões. “Em primeiro lugar, o acesso fácil ao crédito oferecido por essas entidades pode levar as pessoas a gastarem mais do que realmente podem pagar”, aponta ele que ainda acrescenta os limites de crédito generosos e a possibilidade de parcelamento das compras, como inimigos das contas em dia.
“Muitos consumidores acabam caindo na armadilha de acumular dívidas rapidamente, especialmente quando não têm um controle adequado de seus gastos”, complementa o economista.
Para Mikael, as taxas de juros associadas aos cartões de crédito e empréstimos concedidos por financeiras geralmente juros também elevados, indicam grande possibilidade de se tornar inadimplente, tendo em vista que mesmo uma pequena quantia de dívida pode se transformar em uma grande carga financeira devido aos juros acumulados ao longo do tempo.
“Isso pode levar as pessoas a ficarem presas em um ciclo de dívidas, onde estão constantemente lutando para pagar o montante devido, mas acabam acumulando ainda mais dívidas devido aos juros altos”, analisa. (Colaborou João Gabriel Villalba)

Fonte: Correio do Estado

  • Compartilhar:
  • Facebook
  • Facebook
  • Facebook